Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Celso Ming - A Tailândia se defende


Artigo -
O Estado de S. Paulo
20/12/2006

Ontem, o Banco da Tailândia (banco central) impôs restrições à entrada de capitais. O objetivo é conter o tsunami de moeda estrangeira que está valorizando o baht, a moeda local, a ponto de pôr em risco as exportações do país. O problema lembra o que acontece com a economia brasileira. É ficar de olho no que vai dar a experiência tailandesa.

A decisão de ontem obriga os bancos a reterem sem remuneração 30% dos recursos que chegarem ao país. Se o investidor resolver repatriar o dinheiro, terá de deixar os 30% na Tailândia até inteirarem um ano. Isso equivale a uma taxação do capital em 10%.

A medida veio depois que o afluxo de moeda estrangeira alcançou US$ 950 milhões apenas na primeira semana de dezembro. Em novembro, haviam entrado US$ 300 milhões por semana e, nos primeiros dez meses do ano, US$ 13 bilhões.

A resposta do mercado financeiro foi um coice. O índice SET, da bolsa local, fechou ontem com uma baixa inédita de 14,8%, depois de ter desabado 19,5%. As ações das empresas tailandesas perderam nada menos que US$ 23 bilhões do seu valor de mercado. A reação foi tão forte que o Banco da Tailândia se viu na obrigação de abrir certas torneirinhas e isentar o mercado de ações, os investimentos de risco e as transferências unilaterais dessa taxação disfarçada.

A natureza da atual crise é diametralmente oposta à de 1997/98. Naquela ocasião, havia fuga de capitais, porque a percepção do investidor era a de que havia risco de calote da dívida pública. Agora, há avalanche de capitais porque o excelente desempenho da economia asiática está atiçando a cobiça do investidor.

A experiência tailandesa vai agora ser acompanhada com lupa pelos observadores porque a mesma síndrome de afogamento da economia por capitais estrangeiros atinge quase todos os países emergentes. Em princípio, não se pode dizer que esses recursos tomaram o rumo da Tailândia para tirar proveito dos juros mais altos lá, porque eles não passam de 5,25% ao ano, os mesmos que prevalecem no mercado americano. Aparentemente, tratou-se até aqui de um movimento especulativo baseado no diagnóstico de que o dólar tende a desvalorizar-se diante de inúmeros ativos (ações, ouro, commodities, imóveis) e as moedas dos países emergentes, a valorizar-se.

Controles do fluxo de capitais em geral não funcionam. Uma das razões disso é o fato de que é difícil distinguir fluxo comercial de fluxo financeiro, uma vez que tanto as exportações como as importações são financiadas. E, se o Banco da Tailândia foi obrigado a reabrir torneiras, o controle fica ainda mais complicado.

O remédio ortodoxo para situações assim é a derrubada dos juros. Seu efeito colateral seria o aumento da inflação, que o Banco da Tailândia aparentemente pretendeu evitar.

Em todo o caso, se com flexibilização e tudo o mais a decisão tailandesa for eficaz, o mesmo capital estrangeiro que buscou tirar proveito da valorização do baht poderá procurar outro porto, ou na Ásia ou na América Latina.

Como informou a edição de ontem do La Nación, de Buenos Aires, o governo argentino também estuda a imposição de controles sobre fluxo de capitais. As Contas Externas do Brasil, ontem divulgadas pelo Banco Central, não mostram nenhum movimento anormal nessa área.

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