O Estado de S. Paulo |
14/12/2006 |
Atuação de Dilma na crise não faz jus à fama de autoridade em gerência Até o ponto em que a memória e a vista alcançam, a ministra Dilma Rousseff saiu do Ministério das Minas e Energia para, em substituição a José Dirceu na Casa Civil, dar um novo impulso administrativo ao governo. A pasta perderia o cunho político para assumir uma feição de gerência das ações governamentais. Transcorrido mais de ano, a Casa Civil, de fato, não é mais o centro das articulações políticas. Nem por isso, entretanto, existe algum sinal de que tenha se transformado no eixo da eficácia administrativa. A ministra, com seu jeito assertivo, realmente impressiona. Na atual crise do setor aéreo, entretanto, Dilma Rousseff vai levando quem assiste ao seu desempenho à conclusão de que a celebrada capacidade de resolver problemas, dirimir dilemas e tocar o que precisa ser tocado é apenas uma impressão. Dirceu, o antecessor, passou dois anos e meio no governo, alimentado pela aura de articulador político de primeira linha, mito desfeito na prática pela série de decisões equivocadas que, mesmo antes dos escândalos de corrupção, fizeram o governo enfrentar dificuldades políticas uma atrás da outra. Dilma, a sucessora, envereda pelo mesmo caminho da desmistificação. Para isso, a ministra-chefe da Casa Civil deu uma contribuição inestimável ao simplesmente assumir que não só não pode como não vai fazer nada para ajudar na administração do problema do tráfego aéreo. Como ela, o ministro da Defesa e o presidente da República consideram que a crise é de exclusiva responsabilidade da Aeronáutica - e, pelo visto, na concepção dos três, a Força Aérea é uma entidade à parte do governo -, fica tudo por isso mesmo, porque a questão principal foi resolvida: encontrou-se um culpado a quem atribuir responsabilidade. Sendo assim, nada mais é preciso ser dito, pois as explicações devem ser cobradas à FAB. Ao se recusar a comentar o relatório do Tribunal de Contas, apontando como causa da crise a falta de atenção do governo para com as necessidades do setor, a ministra reagiu com irritação. Disse que a Casa Civil não tem nada a ver com isso, que o Ministério da Defesa está subordinado à Casa Militar e, portanto, quem deve fornecer respostas é o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno. Se o presidente da República, o comandante-chefe das Forças Armadas, não fala sobre o assunto, se o ministro da Defesa, quando fala, não diz coisa com coisa e se a pessoa em tese encarregada de fazer o governo andar informa que o assunto não é da sua alçada, esgotou-se a última instância de possibilidade de solução. Foi à ministra Dilma Rousseff que, se a memória não falha, o presidente Luiz Inácio da Silva deu, naquela terça-feira crítica uma semana atrás, a tarefa de coordenar uma série de ações para amenizar os efeitos da situação aguda e prevenir um novo caos na véspera das festas de fim de ano. Dilma agora admite que nada fará e não tem nada a dizer sobre as imputações de uma instituição oficial. É de se perguntar, então, a que missão a ministra será capaz de dedicar o desempenho por todos tão esperado, se a esta, a mais importante questão com a qual o governo já se deparou, recusa-se a emprestar sua tão festejada capacidade gerencial. Para fazer jus ao mito da boa administradora, a ministra precisaria no mínimo demonstrar habilidade para agregar os personagens envolvidos na crise, chamá-los ao entendimento e apresentar uma saída ao País, e não criar mais arestas com a Aeronáutica, porque aqui não está em jogo um embate ideológico com os militares, mas a segurança da vida de milhares e prejuízos a serem contabilizados na casa dos milhões. Dia D Se o governo não tem um plano para evitar maiores transtornos no tráfego aéreo nas festas de fim de ano, é de se imaginar que não tenha também como evitar o caos no aeroporto de Brasília no dia da posse do presidente Lula, em 1º de janeiro. Naquele dia não serão apenas os representantes dos movimentos sociais convidados para a festa de posse que tentarão chegar à capital. Deputados, senadores, empresários, ministros, funcionários e seus familiares também precisarão estar em Brasília a tempo das cerimônias no Congresso e no Palácio do Planalto. Havendo medidas de emergência, porém, os passageiros que há dois meses têm suas dificuldades tratadas com indiferença e desacerto vão se sentir na condição de cidadãos de segunda categoria. Com toda razão. Pingo no i O poeta Ferreira Gullar matou a questão ao comentar a peculiar visão do presidente Lula sobre a relação entre idade cronológica e posição ideológica de pessoas com mais de 60 anos, segundo ele problemáticas quando permanecem na esquerda. "O Lula diz qualquer coisa, a qualquer hora, dependendo do público que o assiste e da conveniência do momento. Ele não tem compromisso com coisa alguma, só com o poder", definiu Gullar, expondo a inutilidade da discussão sobre o tema. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, dezembro 14, 2006
Dora Kramer - O mito da administradora
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