Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 05, 2006

Celso Ming - preço da imprevidência

Celso Ming - preço da imprevidência


O Estado de S. Paulo
5/12/2006

Na entrevista publicada domingo neste jornal, o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli (foto), advertiu que só há duas formas de ajustar a procura de gás à oferta disponível: ou sobem os preços ou se raciona o produto. Se depender da Petrobrás, os preços aumentam.

Amanhã, a Petrobrás retoma as negociações com a YPFB, a estatal boliviana, para definição do reajuste de preços do gás importado. Será outra pressão sobre os preços. E, ainda neste mês, a Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, fará um teste para conferir se as termoelétricas brasileiras estão em condições de produzir a energia que dizem ser capazes de produzir. O simples resultado deste teste terá impacto sobre o preço da energia.

Para poderem funcionar a plena capacidade, as termoelétricas a gás teriam de queimar 28,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Mas a Petrobrás adverte que só tem contrato para fornecer 12 milhões. Na prática, essas usinas não têm como produzir energia na proporção admitida.

Há 15 dias, a Aneel cortou capacidade de geração de 2.888 MW dos mapas do Planejamento Energético, sob o argumento de que essas usinas não têm condições de dar conta desse suprimento. O teste tirará as dúvidas.

Ainda que os testes concluam por um aumento da capacidade real de geração das termoelétricas, não há mais como evitar duas conseqüências. A primeira é a de que o risco de apagão energético ficou mais alto do que antes se supunha. A segunda é a de que, se não se pode contar com toda a energia prometida pelas termoelétricas, o preço do quilowatt de energia elétrica nos próximos leilões ficará mais alto. A Aneel está certa em exigir transparência e em não prometer o que o setor não pode entregar.

Não há como negar razão quando os dirigentes da Petrobrás lembram que não existe gás no País para toda a demanda que vem sendo formada. A Petrobrás precisa de gás tanto para usar como combustível nas refinarias como também para reinjetar nos poços e de lá tirar mais petróleo.

E, estimulada pela própria Petrobrás, a indústria passou os últimos cinco anos trocando fornos e caldeiras a óleo combustível ou diesel para atender aos apelos da estatal, que pretendia mercado para o gás boliviano.

Mas o argumento de que só vai fornecer gás para quem tem contrato é difícil de aceitar porque a Petrobrás já vem fornecendo para a Comgás cerca de 20% acima do contratado.

Além disso, a pretensão do ministro Silas Rondeau de segurar as tarifas de energia elétrica (modicidade tarifária) tromba não só com o aumento inevitável dos preços nos futuros leilões de energia elétrica, como com a decisão da própria Petrobrás de elevar os preços para ajustar a demanda por meio desse aumento.

Por trás de tudo há dois problemas graves. O primeiro foi o estímulo excessivo dado ao consumo de gás natural e a falta de tarifas realistas que balanceassem oferta e procura. E o segundo, a falta de investimentos na área do gás e, por trás disso, a falta de uma Lei do Gás que defina, de uma vez por todas, quem pode produzir, transportar e distribuir gás natural e a que preços. Mais uma vez, o País paga o custo do descaso e da imprevidência.

FALHA NOSSA

No gráfico de domingo sobre a evolução do PIB argentino, a moeda em que estão definidos os valores é o peso arge

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