O Estado de S. Paulo |
8/12/2006 |
O ministro da Defesa, Waldir Pires (foto), é um pasmado diante da crise nua. Nunca sabe de nada e se surpreende a cada momento, quando alguém lhe faz uma pergunta qualquer sobre o apagão aéreo ou sobre o caos em que se transformaram os aeroportos. Ainda que tenha sido colocado no posto apenas para não atrapalhar os comandantes militares, para todos os efeitos ele é o responsável direto pelo que está acontecendo. É assim nas leis militares: o responsável é sempre quem está no comando. Parece que alguém precisa dizer ao presidente Lula que controle de vôo é assunto de segurança nacional. Esta é a única razão pela qual este serviço está sob responsabilidade da Aeronáutica. E, no entanto, o tratamento dispensado até agora para o problema foi dos mais estapafúrdios. Às vezes, o governo Lula pareceu pretender encaminhar soluções trabalhistas. Foi assim, por exemplo, quando determinou que o ministro do Trabalho se reunisse com as autoridades da área para procurar uma saída para a operação-padrão dos controladores de vôo. Com isso, conseguiu subverter a hierarquia militar na medida em que aceitou ouvir reivindicações salariais de sargentos da Aeronáutica. Às vezes, se põe a cobrar como se tudo realmente dependesse da Aeronáutica, mas nunca exigiu conseqüência para ações e omissões. A decisão de aquartelar os controladores de vôo, tomada pelo comandante da Aeronáutica, foi um tiro pela culatra que contribuiu para desautorizar os superiores. Das autoridades da Aeronáutica também estamos ouvindo declarações desencontradas. Quando do acidente do Boeing da Gol, foram as primeiras a negar responsabilidades pelo ocorrido dos serviços de controle de vôo. Agora já se sabe o suficiente para dizer o contrário. Quando, na terça-feira, saiu do ar o sistema de rádio que interconecta centros de controle, torres e aeronaves, o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, apressou-se a descartar sumariamente a hipótese de sabotagem. Mas não foi capaz de dar explicação mais convincente para o que aconteceu. De todo modo, essa pane mostrou que não há sistema de reserva num setor vital, o que por si só demonstra a ordem de prioridades atribuída a esses assuntos na Aeronáutica. É como um hospital de primeira linha não contar com gerador próprio de energia elétrica em condições de entrar em funcionamento sempre que falte força de alimentação externa. Há dois meses, a balbúrdia tomou conta dos céus e dos aeroportos deste país sem que nenhuma solução tenha sido encaminhada. Falta até mesmo um diagnóstico seguro do problema. O comandante da Aeronáutica entende que a solução passa pela aplicação drástica dos regulamentos militares. O ministro Waldir Pires parece mais propenso a saídas de tipo político. Nesse clima de desencontro, a qualidade de comando fica prejudicada. Os prejuízos não se limitam aos vôos atrasados ou definitivamente suspensos; às viagens programadas, mas não realizadas; ao faturamento desfeito das companhias aéreas que derrubou em R$ 5 bilhões o valor de mercado das ações da Gol e da TAM; e às oportunidades perdidas nos serviços de hotelaria e no avanço do turismo. É incomensurável o volume de encontros de trabalho agendados, mas não realizados; e de decisões que deixaram de ser tomadas por conta disso. Em Brasília, dezenas de eventos no Congresso tiveram de ser desmarcados porque deputados e senadores não puderam chegar a tempo ou tiveram de cancelar suas viagens. E ainda é preciso ver quantos processos por indenização serão abertos na Justiça para repor perdas a passageiros, empresas e companhias de transporte aéreo. A pane principal não é sequer dos serviços de controle de vôo ou dos sistemas de comunicação. É da capacidade do governo Lula de encaminhar solução rápida e eficaz a uma crise dessas proporções. Questões de segurança nacional têm de ter tratamento de Estado-Maior e não de cartolagem sindical. Exigem capacidade de comando e não ajeitação inconseqüente. No entanto, só quarta-feira o presidente Lula entendeu que devesse convocar um gabinete especial de crise para consertar as coisas. Ainda assim, o risco é o de que um processo encaminhado nessas condições se arraste interminavelmente, em reuniões inconclusivas, bem ao feitio do governo PT. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 08, 2006
Celso Ming - O ministro pasmado
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