Há excelentes argumentos a favor do controle aéreo no país ser mantido em mãos militares. Sem dúvida a FAB é uma organização de abnegados, entusiastas e estudiosos. Haja visto a gênese de entidades como o CTA, ITA, a própria EMBRAER, e por que não dizer, o próprio passado de controladores do espaço aéreo brasileiro ao longo de décadas.
Certamente como corporação a FAB é eficiente. Mas há efetivamente outras considerações. Hoje o controle do espaço aéreo é uma tarefa imensa. O condicionamento de uma organização militar hierarquizada normalmente não conduz os executores de patente menor a discutirem ordens superiores, nem facilita o trânsito de preocupações candentes da base da pirâmide para o topo. Os próprios brigadeiros tem limitações ao levar suas preocupações ao público. Pela disciplina militar sequer podem fazer declarações à imprensa que coloquem em risco a estatura da força a que servem ou mesmo do governo que estiver no poder.
Essa é a essência dos motivos que levam ao estabelecimentos de agências independentes, não-aparelhadas para normatizar certos aspectos da vida de um país.
Um oficial que se dirija a seu superior e diga que estão faltando controladores, que o equipamento está ao fim de sua vida útil, que não há equipamentos de suporte, ouvindo de seu comandante a resposta de que já pleiteou tudo isto, que o pedido já subiu aos escalões mais altos e foi recusado enfim pelo tesouro, sabe que se continuar insistindo isto vai para sua ficha. Curva a cabeça, chama seus comandados e anuncia que terão de fazer mais duas horas ao dia, que cada um terá de controlar mais aviões, que tudo que foi dito e for dito sobre as inconsistências do sistema é de segurança nacional donde haverá penalização dos que falarem ao público, mesmo que estejam dizendo a mais pura verdade.
Então uma organização essencialmente eficiente passa a atuar sem eficácia. O povo que habita as torres de controle mantém se em atividade por medo, tanto das represálias quanto de acontecer algum desastre como o choque de dois aviões. E o salário? Uma merreca considerando o preço do desgaste emocional da função. Uma telefonista no Brasil não pode trabalhar mais de seis horas ao dia. Quanto trabalha efetivamente um controlador de vôo? Num trabalho infinitamente mais estressante do que o de uma telefonista, em que vidas humanas estão nas suas mãos, milhares de vidas por dia.
Conheci um controlador de vôo. Poucos anos antes eu vira a foto de seu casamento com uma parente. Era um ex piloto de combate. No casamento tinha belos cabelos negros. Depois foi transferido para a sala de controle de combate. Dois anos depois estava com os cabelos absolutamente brancos. Contou que num dia em que havia atividade aérea inimiga na fronteira passou duas horas prestes a ordenar que os seus aviões abrissem fogo. À noite ao trocar de roupa viu que seus cabelos estavam completamente brancos. Era um rosto de 28 anos com cabelos de velho. É claro que um controlador do Brasil não chega a ter este tipo de tensão, mas considerando o número de vidas em perigo o exemplo é razoável.
Aqui não estou menosprezando o custo emocional aos oficiais que comandam o espaço aéreo brasileiro. Certamente também estarão tão desgastados quanto os controladores. Estudaram, sabem o que deve ser feito, sabem fazê-lo e sabem que um dia ocorrerá um desastre. Toda a fidelidade ao sistema hierárquico, em última instância de nada adianta. Depois de Inês morta sabem que levarão a culpa. E em algum lugar devem estar se sentindo culpados, estão analisando o que mais poderiam ter feito para pressionar os donos do orçamento para que antes de ocorrer o caos algo tivesse sido feito.
A verdade é sempre a mesma. Um governo em que um ministro acumulava a participação em trinta comissões para decidir sobre trinta assuntos diferentes não pode estar levando o planejamento muito a sério. No momento de decidir quais recursos de orçamento serão contingenciados vale mais a petulância do ministro da área do que a gravidade com que os recursos são necessários.
Aliás, a existência de 30 comissões já é um defeito. Comissões não resolvem nada. Grupos de profissionais que esmiuçam os prós e os contras de certos assuntos, planejam os recursos necessários para realizá-los funcionam. Os planos devem existir. O dinheiro pode ter sido provisionado em orçamento. Mas quando um Ministro da Fazenda decide que o ministro da área em questão não tem força e confisca setenta porcento do provisionado de nada adiantam os projetos bem feitos. Quando essa atitude é repetida ano após ano com o mesmo ministério tudo que podemos fazer é provisionar fundos para a compra de “body bags” (sacos para cadáveres)ou gasolina para incinerar gado com aftosa, e treinar os porta vozes para dizer que os culpados já estão sendo identificados e serão exonerados.
Então uma organização essencialmente eficiente passa a atuar sem eficácia. O povo que habita as torres de controle mantém se em atividade por medo, tanto das represálias quanto de acontecer algum desastre como o choque de dois aviões. E o salário? Uma merreca considerando o preço do desgaste emocional da função. Uma telefonista no Brasil não pode trabalhar mais de seis horas ao dia. Quanto trabalha efetivamente um controlador de vôo? Num trabalho infinitamente mais estressante do que o de uma telefonista, em que vidas humanas estão nas suas mãos, milhares de vidas por dia.
Conheci um controlador de vôo. Poucos anos antes eu vira a foto de seu casamento com uma parente. Era um ex piloto de combate. No casamento tinha belos cabelos negros. Depois foi transferido para a sala de controle de combate. Dois anos depois estava com os cabelos absolutamente brancos. Contou que num dia em que havia atividade aérea inimiga na fronteira passou duas horas prestes a ordenar que os seus aviões abrissem fogo. À noite ao trocar de roupa viu que seus cabelos estavam completamente brancos. Era um rosto de 28 anos com cabelos de velho. É claro que um controlador do Brasil não chega a ter este tipo de tensão, mas considerando o número de vidas em perigo o exemplo é razoável.
Aqui não estou menosprezando o custo emocional aos oficiais que comandam o espaço aéreo brasileiro. Certamente também estarão tão desgastados quanto os controladores. Estudaram, sabem o que deve ser feito, sabem fazê-lo e sabem que um dia ocorrerá um desastre. Toda a fidelidade ao sistema hierárquico, em última instância de nada adianta. Depois de Inês morta sabem que levarão a culpa. E em algum lugar devem estar se sentindo culpados, estão analisando o que mais poderiam ter feito para pressionar os donos do orçamento para que antes de ocorrer o caos algo tivesse sido feito.
A verdade é sempre a mesma. Um governo em que um ministro acumulava a participação em trinta comissões para decidir sobre trinta assuntos diferentes não pode estar levando o planejamento muito a sério. No momento de decidir quais recursos de orçamento serão contingenciados vale mais a petulância do ministro da área do que a gravidade com que os recursos são necessários.
Aliás, a existência de 30 comissões já é um defeito. Comissões não resolvem nada. Grupos de profissionais que esmiuçam os prós e os contras de certos assuntos, planejam os recursos necessários para realizá-los funcionam. Os planos devem existir. O dinheiro pode ter sido provisionado em orçamento. Mas quando um Ministro da Fazenda decide que o ministro da área em questão não tem força e confisca setenta porcento do provisionado de nada adiantam os projetos bem feitos. Quando essa atitude é repetida ano após ano com o mesmo ministério tudo que podemos fazer é provisionar fundos para a compra de “body bags” (sacos para cadáveres)ou gasolina para incinerar gado com aftosa, e treinar os porta vozes para dizer que os culpados já estão sendo identificados e serão exonerados.