Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Celso Ming - Água no chope



O Estado de S. Paulo
21/12/2006

Até mesmo o Banco Central está despejando água no chope do crescimento a 5% ao ano. O pacote do governo, que seria anunciado hoje, mas foi adiado à última hora, tem de ser muito bom para garantir esse avanço do PIB.

O Relatório de Inflação, ontem divulgado, projeta para 2007 um crescimento não superior a 3,8%, o que passa o recado de que, para crescer mais, é preciso muito mais investimento.

Em compensação, na área cambial vai sendo obtido pelo menos um elemento positivo. Basta examinar o gráfico ao lado para verificar que desde julho as cotações do dólar vêm sendo mantidas em torno dos R$ 2,155.

O Relatório de Inflação mostrou que as compras acumuladas líquidas de moeda estrangeira apenas pelo Banco Central foram de US$ 31,9 bilhões nos 11 primeiros meses de 2006, 48,4% mais altas do que em todo o ano de 2005. A concluir pela acumulação de reservas, apenas em dezembro (até ontem) o Banco Central comprou mais de US$ 3 bilhões, o que mostra aumento da intervenção.

Concluir que o Banco Central esteja intencionalmente trabalhando para construir essa estabilidade pode ser precipitação. Mas o fato é que a atuação do Banco Central vai desembocando numa certa estabilização. Os dirigentes do Banco Central recitam o mantra de que as intervenções têm o único objetivo de eliminar excesso de volatilidade. Mas, se nisso é eficaz, o resultado prático é certo nível de estabilidade.

A esse ritmo de compras, dá para prever que, lá por abril ou maio, o nível de reservas do Banco Central terá saltado para US$ 100 bilhões. Estabilidade nos grandes movimentos macroeconômicos quase sempre é fator desejável porque garante previsibilidade nos negócios. Mas os exportadores continuarão reclamando. Dirão que, para salvação da lavoura deles, seria preciso mais compras, e isso já mostra que não estão entendendo o essencial: quanto mais e mais rapidamente aumentarem as reservas, mais rapidamente também crescerá a percepção externa de pujança nas contas externas brasileiras. E, quanto mais se consolidar essa percepção, mais rapidamente chegará o grau de investimento para os títulos de dívida do Brasil. E, quando a dívida brasileira atingir o grau de investimento, nova enxurrada de dólares invadirá a praia cambial brasileira.

O Banco Central prevê que, em 2007, as exportações crescerão 6,1% ao total de US$ 145 bilhões e as importações crescerão 8,4%, para um total de US$ 110 bilhões. O maior dinamismo das importações manterá o superávit comercial na faixa dos US$ 35 bilhões, abaixo das projeções do mercado, que apontam para US$ 38 bilhões. Isso significa que as exportações continuarão sendo o principal fator de valorização do real ante o dólar.

Exportadores e um punhado de analistas queixam-se de que esse câmbio está matando a indústria e o crescimento econômico. Mas vêm sendo incapazes de sugerir algo melhor.

Pelo menos avançaram num ponto: já não insistem em que bastaria derrubar os juros para que a atual tendência à valorização cambial se revertesse. E este é um sinal de que já aceitam o argumento de que não é a maciça entrada de capitais especulativos no Brasil que está produzindo os estragos denunciados.

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