O Estado de S. Paulo |
10/12/2006 |
Afinal, é mesmo o sol que gira em volta da terra? Ou não seria o contrário? No artigo que assinou sexta-feira aqui no Estadão, o economista Dionísio Dias Carneiro advertiu que há uma valorização excessiva dos ativos mundiais e que isso pode ter súbita reversão, com o choro e ranger de dentes que situações assim costumam provocar. Há meses, analistas da economia internacional vêm advertindo que muita coisa está subindo em dólares: petróleo, ouro, commodities de todo tipo, imóveis, ações, moedas, etc. Um dos fenômenos mais intrigantes é o de que os títulos do Tesouro dos Estados Unidos vêm pagando juros de longo prazo relativamente baixos. Na última sexta-feira, por exemplo, as T-notes de 30 anos estavam remunerando a 4,66% ao ano, enquanto as de 10 anos pagavam 4,55% ao ano, uma diferença mínima para papéis de vencimentos tão diferentes. Isso significa que créditos em dólares estão sendo desvalorizados. Outro jeito de se referir ao mesmo fenômeno é dizer que o mundo está inundado de dólares, como nunca esteve. Este é um momento de impressionante liquidez e, no entanto, os juros primários nos Estados Unidos estão a apenas 5,25% ao ano. O Brasil vai tirando proveito dessa festa na medida em que a dívida em moeda estrangeira deixou de ser problema e, há três anos, sumiram os sinais de vulnerabilidade externa, ou seja, o risco de fuga de dólares praticamente desapareceu. Esta coluna já tratou dessa questão em várias oportunidades. Por isso, basta um resumo para as causas dessa situação inteiramente nova. A inflação mundial está sendo fortemente contida graças a dois fatores básicos: ao largo emprego de Tecnologia de Informação, que reduz substancialmente os custos de produção, e ao aumento das exportações asiáticas, produzidas com baixíssimo custo de mão-de-obra. Mercadorias e serviços estão cada vez mais baratos, o que facilita o trabalho dos bancos centrais no combate à inflação. Basta um pequeno aperto nos juros para que a inflação volte logo a seu curso. Agora, por exemplo, os Estados Unidos estão vivendo praticamente o pico da retranca monetária e, no entanto, os juros estão nos 5,25% ao ano - como foi lembrado acima. É natural que, diante dessa fartura, os investidores busquem novas aplicações para a dinheirama. E, nessas condições, os preços de quase todos os ativos estão escalando. Tudo se passa como se fosse o dólar que estivesse perdendo valor em relação aos ativos e não como se os ativos estivessem ficando mais caros. Tanto o dólar está perdendo valor, que a cada dia são precisos mais dólares para comprar o mesmo ativo. Em outras palavras, há sim uma impressionante inflação em dólares acontecendo neste momento em todo o mundo. Os índices de inflação em dólares não conseguem captar essa alta porque refletem apenas o que acontece com os preços no varejo para pessoas físicas (custo de vida). Nenhum índice de preços usado para fixar os juros leva em conta valores de mercado de títulos, ações ou ouro. Os preços do petróleo e dos imóveis só aparecem de maneira diluída, na medida em que refletem a alta dos combustíveis, da energia elétrica ou da habitação. Seguem-se pelo menos três conclusões. Primeira, ao contrário do que ainda se propala, já está em curso importante desvalorização do dólar no mercado internacional. Essa desvalorização não é sentida em relação às moedas fortes (especialmente euro e iene japonês) porque sofrem do mesmo mal e também vão sendo desvalorizadas em relação aos tais ativos. Segunda conclusão, os países que estão amontoando reservas em dólares, tais como China, Coréia do Sul, Taiwan, Índia e, também, Brasil, estão sendo atingidos pela perda de poder de compra (de ativos) desses dólares. Cada US$ 1 milhão hoje entesourado como reserva compra menos petróleo, minério de ferro, ouro, ações da Dow Chemical, da Merecedes Benz ou da Microsoft do que comprava há cinco anos. Terceira conclusão, se a desvalorização do dólar tem proporções maiores do que as propaladas, a valorização do real (diante do dólar), objeto de tantas e intermináveis reclamações, pode ser encarada de outra forma. Afinal, o Brasil é um grande produtor de alguns desses ativos cujos preços estão em disparada. Talvez estejamos precisando de um novo Copérnico (reprodução acima) que remova o centro do universo monetário para onde já se encontra de fato. Mas, atenção, revoluções assim contrariam enormes interesses. Não é coisa simples mudar a percepção convencional dos fenômenos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, dezembro 11, 2006
Celso Ming - A desvalorização do dólar
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