Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Celso Ming - Compasso de espera



O Estado de S. Paulo
13/12/2006

Ontem, o mundo financeiro prendeu a respiração até as 17h15, quando, afinal, apareceu no site do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a decisão sobre os juros básicos nos Estados Unidos. Como das duas últimas vezes, a ansiedade maior não se concentrou sobre o tamanho dos juros, mas sobre o diagnóstico que o Fed faria (como fez) do comportamento da inflação americana.

A decisão foi manter os juros nos 5,25% ao ano. (O gráfico mostra a trajetória dos juros básicos americanos ao longo dos últimos 46 meses.)

No comunicado liberado depois da reunião, o Fed deixou claro que ainda não tem certeza de que os juros estejam de bom tamanho e de que não precisará providenciar mais um aperto monetário ("dependerão dos indicadores").

Deixou subjacente que as preocupações com o acirramento da inflação americana diminuíram, mas não o suficiente para desarmar, digamos assim, o viés de alta, que aflige os detentores de capital financeiro.

O mercado reagiu com moderação, aliviado por ter sido evitado o pior (alta dos juros), mas ainda aflito com a eventualidade de um aperto futuro.

Do ponto de vista dos interesses do Brasil, o que saiu foi bom na medida em que manteve o quadro atual de abundância de recursos internacionais, o mesmo que vem permitindo a redução da dívida externa e o fim da chamada vulnerabilidade externa (risco de fuga de capitais).

Há quatro meses, a tensão geral do mundo financeiro estava concentrada em outro foco. O que mais se temia era que a economia americana afundasse na recessão econômica, o que traria prejuízos gerais para o emprego, para o salário e para os resultados das empresas.

No entanto, a significativa expansão do mercado americano de trabalho mais o avanço da renda levaram o Fed e todo o mercado financeiro a desviar o olho do gato e a concentrá-lo no peixe da inflação.

"A economia provavelmente vai se expandir num ritmo moderado" - ficou escrito no comunicado do Fed. "Parece provável que as pressões da inflação se moderarão ao longo do tempo (...), mas alguns riscos persistem."

No dia 28, o presidente do Fed, Ben Bernanke, havia adiantado que "seria especialmente preocupante se houvesse fracasso na redução da inflação". Foi um recado importante porque Bernanke tem falado pouco. Tomou posse na presidência do Fed em fevereiro e, de lá para cá, só fez sete pronunciamentos sobre questões importantes da economia americana.

Mesmo não tendo sido inteiramente afastada a ameaça de novo aperto monetário nos Estados Unidos, nada parece capaz de mudar substancialmente o quadro de fartura de recursos hoje prevalecente em todo o mundo.

Dois fatores vêm contribuindo para a expansão da liquidez mundial: (1) a política de intensificação de reservas internacionais levada adiante pelos países emergentes, especialmente os asiáticos; e (2) a reciclagem dos petrodólares.

Explica-se: as reservas dos bancos centrais estão montadas principalmente sobre títulos do Tesouro americano, o que implica retorno aos Estados Unidos (e, a partir daí, aos demais mercados) dos dólares obtidos pelos produtores com exportações pelos países emergentes. E as aplicações dos dólares faturados com as exportações de petróleo também rebombeiam capitais para os principais mercados.

Esse ambiente de calor e farta umidade tende a favorecer o crescimento global. A última previsão do Fundo Monetário Internacional é a de que, em 2007, a economia mundial deverá avançar 4,9%, o que garante nova expansão das exportações brasileiras.

Infelizmente, ninguém pode fazer a mesma aposta sobre o desempenho do PIB nacional.

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