Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Dora Kramer - Seria cômico, mas é trágico



O Estado de S. Paulo
13/12/2006

É da personalidade do deputado José Thomaz Nonô (PFLAL) a ironia cáustica e, portanto, quando ele defende a proposta apresentada, e aceita, à direção da Câmara para inclusão na pauta de votações de anistia aos parlamentares envolvidos em escândalos de corrupção na legislatura que agora termina, fica evidente a intenção anarquista. "Os reeleitos, a começar por Lula, foram atingidos pelas CPIs. Suas falcatruas não impediram que fossem reeleitos.
Quem os reelege não dá importância para princípios éticos. O povo acha que eles não fizeram nada demais, pois tomaram pancada o tempo todo e foram mandados de volta à Câmara", diz o deputado, decerto irritado por não ter sido reeleito depois de sucessivos mandatos de conduta correta, por vezes profética, como quando andava na pasta com o adesivo "impeachment nelle" no início do governo Fernando Collor.
O problema não é o sarcasmo do deputado Nonô, mas as conseqüências dele. Se pretendia expor seus pares de Mesa ao ridículo e levar aos píncaros a desfaçatez e a capacidade de parlamentares de produzir barbaridades, conseguiu o seu intento.
Se queria de alguma forma fazer piada com a reeleição de Lula, foi uma tentativa vã. Agora, se seu plano era bombardear por tabela o projeto de anistia do ex-deputado José Dirceu, já sabendo que a reação a esse tipo de perdão seria absolutamente negativa, pode ter obtido algum sucesso. Mas o caminho foi de linhas tortas.
O deputado apresentou a proposta e na maior sem-cerimônia a Mesa aprovou no dia 29 último, na calada, uma resolução proibindo a continuidade dos processos por quebra de decoro parlamentar de uma legislatura para outra, a não ser mediante apresentação de um "fato novo". Vale dizer, da repetição da quebra do decoro, já que as infrações anteriores estariam prescritas por ação das urnas.
De imediato, um representante do PL, Luciano Castro, providenciou requerimento de urgência urgentíssima para a entrada em votação no plenário. A Mesa, sob a presidência do candidato à reeleição, Aldo Rebelo, aprovou e, se oposição e gente mais ajuizada da base do governo não desse o contra, o assunto era capaz de prosperar.
E a Câmara estaria onde, a não ser nas profundezas do mais fundo dos poços da desmoralização se concedesse, como apropriadamente qualificou o deputado Chico Alencar, esse "indulto de Natal" aos mensaleiros e sanguessugas? A hipótese de José Thomaz Nonô ter dado vazão a sua veia cômica ao fazer a proposta é levantada em atenção à sua história e reconhecida inteligência. Mas, se por hipotético absurdo estiver falando sério, francamente, o eleitorado de Alagoas, ao contrário dos eleitores dos beneficiados pela pretendida anistia, demonstraram sensatez ao não lhe renovar o mandato.

Autor da anistia a mensaleiros e sanguessugas faz piada com assunto sério

Província
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dito que o PSDB não vai a lugar algum se não mudar. Cita como exemplo de comportamentos inadmissíveis o apoio de Jutahy Magalhães ao petista Jaques Wagner na Bahia e a insistência de Eduardo Paes em sair candidato de si mesmo ao governo do Rio de Janeiro.
Desde segunda-feira à noite, pode incluir em sua lista o presidente do partido, Tasso Jereissati, que no programa
Roda Viva, da TV Cultura, admitiu apoio à candidatura presidencial de Ciro Gomes em 2010 porque, para Tasso, o que interessa é o Ceará.

Deformação
Quando se vê que a turma de formandos na escola preparatória de cadetes do Exército escolheu homenagear o general Emílio Garrastazu Médici, ditador-chefe no pior período do regime militar, é de se pôr em dúvida a tese defendida por oficiais do Exército de que a nova geração não apenas está distanciada como condena as arbitrariedades do período autoritário.
Fica evidente que o processo de formação dos futuros oficiais incute nos jovens a mentalidade de que, se houve perdas de vida e liberdade, houve ganhos que merecem ser celebrados. Assistir à juventude com aspirações militares festejar alguém que comandou um governo que torturava, matava e obrigava brasileiros a deixar seu país leva à triste constatação de que a doutrina malsã ainda vive nos quartéis.
Por essas e outras é tão fundamental a abertura dos arquivos da ditadura. É uma forma - a única - de lidarmos com o passado baseados em fatos, não em versões, sendo a mais danosa delas a de que no autoritarismo o Brasil cresceu e não conviveu com a corrupção na política.
Sem clareza sobre o que de fato ocorre quando se suprimem as liberdades, daqui a pouco o desrespeito às leis que grassa no País poderá levar os mais jovens e menos avisados a concluir que só o autoritarismo salva.

Prazo vencido
Pelas contas do presidente Lula, segundo as quais o ser humano depois dos 60 anos não professa mais a fé esquerdista a não ser como manifestação de conduta problemática, o amigo Fidel Castro, aos 80, já ultrapassou em um terço da vida a cota.

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