Caos nos aeroportos instala-se também
no governo: quem será o primeiro a cair?
Policarpo Junior
Um dia de caos nos aeroportos: atrasos de até doze horas |
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O maior apagão aéreo da história do Brasil, ocorrido na terça-feira passada, começou com uma pane no rádio que faz a comunicação de Brasília com os aviões e as torres dos principais aeroportos do país. O caos durou seis horas, provocou atrasos de até doze horas em algumas decolagens e resultou no cancelamento de 200 vôos nacionais. O comando da Aeronáutica, responsável pelo tráfego aéreo no país, levantou a suspeita de sabotagem. A polícia foi chamada para investigar a possibilidade de que um sargento tivesse propositalmente transferido as freqüências que acompanham os vôos para um equipamento estragado. No fim da semana, o tráfego aéreo voltava à normalidade e os investigadores estavam inclinados a descartar a hipótese de sabotagem – mas o caos que se observara antes nos aeroportos estava instalado nos bastidores do governo, que tem dado sinais evidentes de que não faz a menor idéia da natureza da crise, que já perdura por dois meses, nem atina com uma solução duradoura para ela.
Paulo Whitaker/Reuters |
No ambiente caótico do governo, há quem defenda a demissão imediata de Waldir Pires, o ministro da Defesa, que é sempre o último a saber das coisas e não tem trânsito com os militares que cuidam do tráfego aéreo. Outra corrente advoga a saída do brigadeiro Luiz Carlos Bueno, comandante da Aeronáutica e responsável mais direto pela baderna dos aeroportos brasileiros, sob a alegação de que foi incompetente ao lidar com os primeiros movimentos de protesto dos controladores de vôo, surgidos logo após a queda do avião da Gol, que matou 154 pessoas. Fala-se até numa mudança mais ampla e radical, incluindo a demissão do general Jorge Armando Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Ele é o responsável pela Abin, o serviço de inteligência do governo, e não foi capaz de informar o presidente Lula sobre a iminência da crise dos controladores de vôo nem sobre sua dimensão – tarefas essenciais da Abin.
A crise tem feito o governo reagir por espasmos. Desde que os tumultos começaram, em outubro passado, com os controladores de vôo fazendo greve branca, o governo já tomou diversas providências. Abriu vaga para 64 controladores, contratou dezesseis de imediato, convocou aposentados e liberou dinheiro para comprar novos equipamentos. Mas nada surtiu, até agora, o efeito desejado. Na semana passada, diante da pane ocorrida em Brasília, o governo decidiu desconcentrar o controle de vôos. Brasília controla 80% dos vôos feitos no país – e seus equipamentos, como demonstrou a pane da semana passada, encontram-se em situação alarmente (veja o quadro). Com a descentralização, uma parte do controle antes feito por Brasília ficará com Rio de Janeiro e São Paulo. Se a situação se normalizar e as viagens de fim de ano transcorrerem sem atropelo, é possível que as autoridades responsáveis permaneçam no cargo – até que um novo caos se espalhe pelo país.