Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 10, 2006

AUGUSTO NUNES Sete Dias



Passageiro federal é outra coisa


Faz muito tempo que a FabTur é a melhor empresa aérea do país. Quase um mês e meio atrás, com o apagão, tornou-se a única inteiramente confiável. Pena que não aceite como clientes os brasileiros comuns. Aviões da FabTur - cuja denominação oficial é Grupo de Transporte Especial da Força Aérea Brasileira - transportam exclusivamente passageiros do primeiro time federal.

Das 27 aeronaves da empresa, sete ficam à disposição do presidente. Além do Aerolula, prestam-se a revoadas do chefe dois Boeing 737-200 e quatro helicópteros. Os 20 pássaros voadores restantes são reservados a ministros e uns poucos pais da pátria de finíssima extração. O quadro de funcionários abrange 55 pilotos. Há 150 funcionários em terra.

Como os pousos ou decolagens são monitorados pela Defesa Aérea, não pelos cindactas da vida, nunca faltam controladores. A pontualidade é garantida. O conforto, também. Os Learjet reduziram os assentos de oito para cinco. "Assim, os ministros e seus assessores têm mais espaço para trabalhar e descansar", explica o site da empresa.

Cliente de larga milhagem da FabTur, é natural que o passageiro Tarso Genro se aborreça com a ansiedade das multidões castigadas pelo rebaixamento dos aeroportos a zonas conflagradas. "O importante é não ter pressa neurótica, temperamental, para enfrentar a crise", desdenha o ministro das Relações Institucionais.

A longa experiência nos tribunais adestrou esse advogado gaúcho na arte de escolher a palavra certa. Quem nunca pronunciou a palavra "mensalão" não haveria de escorregar no termo "apagão". Tarso diz "crise" - uma crise como tantas. Por que a pressa, se há outras urgências e necessidades mais relevantes a considerar?

"O essencial é preservar o limite científico e técnico de segurança dos passageiros", discursou na quarta-feira, prestes a embarcar para um fim de semana prolongado na Itália. "O governo tem de escolher entre dois valores: a vida dos passageiros e o desgaste político. É preferível o desgaste político".

Nos aeroportos brasileiros, como nos sábados do poema O dia da criação, de Vinicius de Moraes, "impossível fugir a essa dura realidade" que os viajantes da FabTur preferem ignorar. Há filas de até um quilômetro na área de embarque. Há milhares de passageiros desesperados. Há uma criança perdida faz muitas horas. Há um menino que não chegará a tempo para o transplante de fígado que lhe salvaria a vida.

Porque é um aeroporto no Brasil, há controladores entregues ao esforço de atrasar todos os pousos, todas as decolagens. Há vôos misteriosamente cancelados. Há funcionários de empresas aéreas dedicados a confundir a multidão maltratada. Há um ministro que nada sabe e outro que tudo esconde. Há um rebanho de homens e mulheres humilhados. Há buracos negros nos radares que cobrem o território nacional. Há equipamentos obsoletos. Há um governo incompetente.

Mas há também Tarso Genro, que só vê uma crise passageira. O estilo durão convive com um homem gentil. Voltará da Itália a tempo de desejar Feliz Natal aos brasileiros.


Cabôco Perguntadô

Só quando era aluno da escola primária o Cabôco soube o que é ter férias em janeiro e em julho. Espantou-se ao tomar conhecimento da indignação no Poder Judiciário com o fim da boa vida dos recessos, que garantiam 30 dias de descanso no inverno e outros 30 no verão. O Cabôco acha que alguém precisa comunicar aos doutores que os tempos de colégio acabaram. E tem uma pergunta a fazer: por que só juízes e parlamentares, entre todos os marmanjos do Brasil, têm dois meses de férias?


Lapso de memória

O maior estadista desde as caravelas informou que, em matéria de hidrelétricas, "as últimas coisas importantes foram feitas durante os governos militares". Um leitor atento da coluna decidiu conferir o que fez FH em oito anos de mandato. Descobriu que, além de ter expandido Itaipu, Tucuruí e Xingó, o Grande Satã do PT inaugurou quatro hidrelétricas em Mato Grosso, uma em Tocantins, duas no Rio Grande do Sul e outra em Santa Catarina. Não é pouca coisa.

Mas Lula segue convencido de que FH só fez o apagão.


A condição humana

Um ministro do Supremo decide questões que incidem diretamente sobre centenas de milhares de vidas e afetam todos os 188 milhões de brasileiros. Só 160 cidadãos, desde a fundação da República, vestiram aquela toga.

O ex-ministro Nelson Jobim poderia ter permanecido no Supremo até aposentar-se, aos 70 anos, em abril de 2016. O fato de ter preferido sair em abril passado e, agora, disputar com avidez a presidência do PMDB confirma que, decididamente, existe gosto para tudo.



Decisão imparcial

Nascido em Piranhas há 48 anos, o ex-vereador e ex-deputado Washington Luiz Damasceno Freitas embolsou em 2004 a quantia de R$ 666 mil, a título de "diferenças salariais", por decisão do presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas. Nome do generoso presidente: Washington Luiz Damasceno Freitas - o próprio. Em nações civilizadas, Freitas perderia a fortuna, o emprego de desembargador e, provavelmente, a liberdade. Como isto aqui é o Brasil, o filho de Piranhas virou corregedor da instituição. Merecia estar preso. Manda prender.


Yolhesman Crisbelles

A taça da semana vai para Ciro Gomes, eleito deputado federal em outubro depois de ter chefiado, por quase três anos e meio, o Ministério da Integração Nacional do governo Lula. O bravo cearense conquistou mais um troféu graças à entrevista concedida à Rádio AM do Povo, de Fortaleza. Trecho:

Agradeço a Deus todo dia por não ter me dado a oportunidade de ser presidente da República nesta eleição.

Milhões de brasileiros também, doutor Ciro.

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