Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, dezembro 03, 2006
AUGUSTO NUNES JB Sete Dias
O clube dos cafajestes
Bandido federal é ruim de choro. Quando consegue produzi-las, são lágrimas rasas, sem convicção, escancaradamente artificiais. Muito compreensível: no Brasil, pecadores que atuam na divisão dos impunes não são dados à prática do pranto convulsivo. A bandidagem dolarizada sabe que vai rir por último. É natural que tenha o riso fácil. Não é estranhável que seja ruim de choro.
A turma até capricha. Mas não convence, como reafirmou o desempenho no tribunal do ex-deputado federal Hildebrando Paschoal. De repente, o delinqüente que perdeu o mandato parlamentar conquistado pelo PFL do Acre caiu na choradeira. Remorso por ter adubado covas rasas, nos tempos de chefão da PM, com corpos mutilados pela motosserra que pilotava? Nada disso.
Seria medo do inferno, especialmente apavorante para alguém que desfrutou do paraíso no Congresso? Também não. Hildebrando fez essa ligeira escala no vale de lágrimas para jurar-se inocente, conduzido ao calvário por uma trama de inimigos políticos. É choro passageiro. Em pouco tempo, o matador sorrirá em liberdade.
Sorrirá como sorriem os três sanguessugas comprovadamente envolvidos na quadrilha das ambulâncias e, ainda assim, absolvidos pela Comissão de Ética do Senado. Durante o curto pesadelo, Ney Suassuna (PMDB-PB), Magno Malta (PR-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT) tiveram seu dia de choro. Agora é a hora da festa.
O espetáculo do corporativismo foi ornamentado pela inventividade do senador Wellington Salgado (PMDB-MG), autor da idéia de castigar com "uma censura verbal" o colega paraibano. "Não faça mais isso, Excelência", sussurrará a Suassuna algum pai da pátria. E o Poder Legislativo terá provado ao país que sabe ser duro com pecadores domésticos.
Desse grave constrangimento foram poupados a mato-grossense de nome impronunciável e o capixaba de penteado ingovernável. Serys e Malta choraram no inverno. A desforra chegou com o fim da primavera. "Fui vítima de uma trama de inimigos políticos", Suassuna plagiou Hildebrando, que seria plagiado pelos demais sanguessugas.
Com as variações de praxe. "Tudo foi tramado pelos meus adversários", recitou Serys Slhessarenko, cujo genro a cobiça transformou em co-piloto de ambulância superfaturada. Refeita do susto, trocou o abraço dos impunes com a catarinense Ideli Salvatti, um berreiro à procura de uma idéia, além de parceira de emprego e de partido.
O coro dos risonhos vai incorporar dezenas de deputados federais, todos envolvidos na roubalheira consumada ao som de sirenes. Apesar dos esforços profiláticos de parlamentares que prezam a decência, como o mineiro-carioca Fernando Gabeira e o pernambucano Raul Jungmann, este final de legislatura não será entristecido por mais perdas.
Nestes quatro anos, assombraram a Praça dos Três Poderes aparições de mensaleiros, vampiros, sanguessugas, comerciantes de dossiês e outras criaturas do pântano. As bandalheiras são incontáveis. Cassações de mandatos, houve apenas três. Se não houver intervenções cirúrgicas nesse organismo necrosado, o Congresso acabará reduzido a um clube dos cafajestes.
Cabôco Perguntadô
Colecionador de maluquices produzidas pelo MST, o Cabôco arquivou na gaveta vip a invasão do porto de Maceió. Consumada na quinta-feira, a ofensiva foi montada para que o Incra apressasse a desapropriação de 22 mil hectares no Estado. O Cabôco tem perguntas a fazer. O que tem o porto a ver com isso? Os militantes sem-terra acreditam que o mar vai mesmo virar sertão? Pretendem caminhar sobre as águas, com Stedile à frente? Ou resolveram partir para a exploração de fazendas marinhas?
Bacharel sem compostura
Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa atropelou as fronteiras da ética. Colidiu com a honestidade do ministro Joaquim Barbosa, que o admoestou publicamente por ter telefonado para Barbosa à caça de informações sobre um processo no qual figura como advogado.
Ficaram mal no retrato tanto o ex-ministro da Justiça de Itamar Franco quanto a OAB, que exigiu "respeito" ao desinibido associado. Só merece respeito quem se dá ao respeito. Não é o caso do bacharel Maurício Corrêa.
Sherloque em Santo André
Encarregada de investigar o caso Celso Daniel, prefeito de Santo André executado a tiros no começo de 2002, a delegada Elisabeth Sato decidiu que o assassinato não teve motivações políticas e engavetou o inquérito. A sherloque paulista deve ter chegado há tempos a tal conclusão: nem perdeu tempo com diligências solicitadas pela Promotoria. Os advogados dos petistas suspeitos de participação no crime rezam para que a doutora continue no comando das apurações. Ela ainda vai provar que Celso Daniel se matou.
Homem trabalhando
Informado de que o crescimento do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre foi tão pífio quanto no segundo, o presidente Lula anunciou a primeira reforma patrocinada pelo novo governo. É a reforma do calendário.
"Esses números não têm importância porque, para mim, 2006 já acabou", decidiu o Grande Pastor. "O que interessa é 2007, é 2008, é 2009, é 2010". Enquanto o Brasil enfrenta um complicado dezembro, Lula já pousou em janeiro. Destravou o país e, no momento, saboreia um crescimento anual de 5%.
Yolhesman Crisbelles
Concebido também para premiar delírios de criatividade, o troféu da semana vai para a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil da Presidência da República, pelo verbo que inventou ao tratar das organizações não-governamentais:
Precisamos eficientilizar o gasto com as ONGs.
O termo "eficientilizar" nunca existiu. Nem existirá. A ministra Dilma parece cada vez mais influente no Planalto. Mas ainda não dispõe de poderes suficientes para reformar os dicionários.
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