Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 02, 2006

Adrenalina, com Jason Statham

O artigo genuíno

Como o inglês Jason Statham construiu
para si uma carreira de herói de ação


Isabela Boscov

Jason Statham tem um crânio em forma de míssil, um nariz meio achatado de boxeador e um sotaque daqueles de cortar com faca, adquirido por direito de origem no East End, a região proletária de Londres. Foi da equipe olímpica britânica de salto. Mas foi também camelô, e vendeu todo tipo de contrabando, de perfumes a bijuterias, numa banca de esquina. Seu pai ganha a vida cantando naqueles resorts das Ilhas Canárias que a classe média inglesa lota durante o verão, e nos quais a já bem madura platéia feminina demonstra apreciação jogando suas calçolas ao palco. Quando conseguiu um papel (justamente de camelô) em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, o primeiro filme de Guy Ritchie (que viria a se tornar o marido de Madonna), Statham estava atravessando outra de suas fases de diversificação profissional, como modelo de uma marca de roupas cujos executivos o indicaram ao diretor provavelmente sem ter idéia do que estavam lançando: o único astro de ação genuíno do momento, elevado ao posto não por fabricação de algum produtor, mas porque a platéia é que enxergou nele um artigo genuíno – e também diferente, capaz de ser um brucutu sem ser truculento.

Essa, digamos, sutileza, além do senso de humor, são as virtudes que o ator demonstrou nos dois filmes da série Carga Explosiva (há um terceiro em negociação) e em Adrenalina (Crank, Inglaterra/Estados Unidos, 2006), desde sexta-feira em cartaz no país. Na aventura dirigida pelos estreantes Mark Neveldine e Brian Taylor, o compacto Statham é Chev Chelios, um matador que tem de manter seus níveis de adrenalina num pico constante, a fim de retardar o efeito de um veneno. Chelios sabe que suas chances de sobreviver são poucas, mas não quer ir sem levar consigo seu inimigo. Dá-lhe, então, todo tipo de barbaridade pelas ruas de Los Angeles, incluindo uma cena de sexo muito pública. Em nenhum momento Statham tenta fazer do personagem um sujeito com qualidades que possam redimi-lo (apesar de ser um bocado atencioso com a namorada, a simpática Amy Smart). Ele é o que é. No caso de Statham, isso significa ter a inteligência para colocar na devida perspectiva essa rubrica hipervalorizada – a de herói de ação – e, assim, construir para si a carreira que Vin Diesel queria ter, mas não conseguiu.

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