Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 02, 2006

VEJA André Petry


No fazendão Brasil


"A verdade é que os políticos agem como se fossem os donos do país. Depois reclamam quando aparece alguém fazendo a defesa do voto branco ou nulo"

A verdade é que boa parte dos políticos brasileiros é tão mesquinha que o eleitor precisa fazer um esforço tremendo para não ceder aos encantos de boicotá-los. Agora mesmo voltou à tona o debate sobre o direito à reeleição. Deve ser mantido ou deve ser eliminado? A última novidade é que o presidente Lula estaria conversando até com os tucanos para acabar com a reeleição. Bastaria que uma emenda constitucional fosse aprovada pelo Congresso. Seria sensacional se Lula estivesse discutindo o fim da reeleição por julgar que é bom para o Brasil. Mas não é nada disso. Lula está de olho mesmo é no próprio umbigo. Sendo ele mesmo o último beneficiário da reeleição, Lula calcula que seu sucessor ficaria no Palácio do Planalto até 2014, quando então ele mesmo poderia voltar a se candidatar. Se tudo desse certo, retornaria ao poder aos 69 anos e por lá ficaria até os 73. Bem mais jovem que Fidel Castro, ora.

Os tucanos agem com a mesma pequenez. Quando lhes interessava empurrar Fernando Henrique para um segundo mandato, a reeleição era um bálsamo eleitoral, a quintessência da democracia. Em 1997, quando a emenda da reeleição era negociada (e não apenas no sentido político...), Tasso Jereissati trabalhou como um gigante por sua aprovação. Era governador do Ceará, mas vivia em Brasília em defesa da reeleição. Para neutralizar as resistências de outros partidos, chegou a cogitar a convocação de um plebiscito! Era um entusiasta convicto da reeleição. Agora, tudo mudou. Em julho passado, como senador, Jereissati deu um parecer favorável a uma emenda que acaba com a reeleição, a qual passou a ser considerada uma praga que corrói a democracia. Diz assim: "A supressão do instituto da reeleição nos parece medida salutar e oportuna". Oportuna! E como!

Há pouco, o problema da reeleição também passou pela boca de Geraldo Alckmin. Com o mesmo oportunismo. Em 12 de junho, Alckmin disse que era contra a reeleição, época em que precisava atrair o apoio de José Serra e Aécio Neves para sua candidatura presidencial. Menos de um mês depois, em 3 de julho, quando sua candidatura já estava consolidada, Alckmin virou. Enxergou a mosca azul voando em algum lugar, achou que já não precisava plantar bananeira para agradar a seus colegas de partido, e passou a defender a reeleição. Serra e Aécio fizeram o mesmo, só que em sentido contrário. Quando uma vitória de Alckmin nas urnas não parecia algo tão improvável como é hoje, queriam acabar com a reeleição. Agora que Alckmin patina até para arrancar um segundo turno, não querem mais. É a roda-viva da mesquinharia.

A verdade é que os políticos se comportam como se fossem os donos do Brasil, capatazes do fazendão Brasil. Querem moldar o país a seus cálculos pessoais, seus interesses de ocasião. Onde está o tal do espírito público? O desprendimento de, uma vez que seja, pensar de verdade no país, na sociedade, num futuro coletivo? Pois é. Depois eles reclamam quando aparece alguém defendendo o voto branco ou nulo.

PS: Na campanha eleitoral, Lula diz que é preciso governar com cabeça e "coração". Alckmin diz que vai dirigir o país com a cabeça e o "coração". Heloísa Helena diz que é preciso conquistar a mente e o "coração". Não são todos uns amores?

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