Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 22, 2006

O governo federal está repetindo no caso do dossiê Vedoin o estranho enredo do escândalo do mensalão.

O Estado de S. Paulo
Coaf pode identificar quem sacou R$ 1,75 mi

Demora da PF e do Conselho leva PT a desviar foco da investigação

Gustavo Freire

O governo federal está repetindo no caso do dossiê Vedoin o estranho enredo do escândalo do mensalão. Apesar de a Polícia Federal (PF) já ter rastreado e identificado o dinheiro, assim como as agências e os saques bancários que juntaram o R$ 1,75 milhão que seria usado para denunciar políticos tucanos, até a noite de ontem nem a PF nem o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) haviam informado os nomes dos sacadores.

Técnicos do sistema financeiro consultados pelo Estado estranham essa demora porque o sistema bancário é informatizado e funciona online. Além disso, os saques se enquadram na legislação de controle automático de movimentação financeira pelo Coaf.

No escândalo do mensalão, no ano passado, o Coaf recebeu os registros de parte dos saques milionários feitos pelo empresário Marcos Valério, mas não viu anormalidade na movimentação de dinheiro vivo na boca dos caixas bancários em Minas Gerais e São Paulo.

A legislação de combate ao crime de lavagem de dinheiro determina que saques em dinheiro iguais ou superiores a R$ 100 mil têm de ser informados ao Coaf. A informação, nesses casos, é repassada diretamente pelos bancos ao Coaf por meio do Sistema de Informação do Banco Central (Sisbacen). 'O repasse da informação é automático, o BC não entra nessa transação', explica uma fonte.

O Coaf, por sua vez, é responsável pelo encaminhamento das informações sobre movimentações de recursos sob suspeita ao Ministério Público, à PF e às CPIs em funcionamento no Congresso.

Sobre o R$ 1,75 milhão apreendido na semana passada, em um hotel paulistano, com os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos, o Coaf diz não ter tido tempo de verificar se houve o registro de saques de valor igual ou superior a R$ 100 mil. 'O Coaf tem hoje cerca de 150 registros de operações com valor acima de R$ 100 mil. É difícil saber, neste momento, se algum deles tem relação com o caso', diz outra fonte.

Pela legislação em vigor, o Coaf também é obrigado a manter sob sigilo as informações recebidas da rede bancária. O órgão, entretanto, passou por um verdadeiro teste de credibilidade durante o caso do depósito de R$ 35 mil na conta do caseiro Francenildo Costa. Pressionado pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o Coaf investigou a transação mesmo com o valor da movimentação abaixo de R$ 100 mil.

Num segundo momento, o sigilo bancário do caseiro acabou sendo violado pela Caixa Econômica Federal, numa tentativa de proteger Palocci e incriminar Francenildo, levantando a suspeita de que ele poderia ter recebido dinheiro para denunciar o ministro.

No caso do dossiê Vedoin, enquanto nem o Coaf nem a PF fazem a identificação dos sacadores de R$ 1,75 milhão, o presidente Lula e seus ministros, candidatos petistas e movimentos sociais da base de apoio ao governo passaram a pedir em público uma 'rigorosa investigação' de algo que ninguém sabe o que é.

De concreto para investigar, porém, existe o dinheiro sacado nas agências do Bradesco, do Safra e do BankBoston em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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