Quando chegarem os dados do crescimento do PIB do terceiro trimestre,
a notícia será melhor que a divulgada esta semana, mas o ano já está
condenado. O Brasil terá, de novo, baixo crescimento. Projeções
feitas pelo consultor Alexandre Marinis mostram que, para atingir os
3,5% que o mercado está prevendo, a economia tem que crescer, nos
últimos dois trimestres, igual ao momento de maior vigor do governo
Lula.
Para crescer este ano o que está sendo previsto pelo mercado, os
3,5%, o país teria que crescer, segundo Marinis, a uma taxa de 1,6%
nos dois últimos trimestres, ou seja, do segundo para o terceiro e do
terceiro para o quarto. "Esse ritmo de crescimento de um trimestre
para o outro equivaleria ao observado no final de 2003 e início de
2004, quando a economia retomava um crescimento vigoroso que não
parece se repetir agora."
Nas próximas semanas, a média das previsões do mercado vai continuar
caindo. Está agora em 3,5%, mas permanecerá em queda. O resultado do
PIB provocará várias reduções da previsão de crescimento.
Principalmente pela queda do investimento.
Para crescer os 4% previstos ainda pelo Banco Central, o país teria
que crescer 2,2% no terceiro e no quarto trimestre, o que só
aconteceu no auge do Plano Real. Para atingir os 4,5% previstos no
Orçamento de 2006, precisaria de um crescimento de mais de 2,8% por
trimestre. Se o crescimento do PIB no resto do ano for equivalente à
média histórica de 1991 ao segundo trimestre de 2006, que é de 0,72%
por trimestre, o país crescerá apenas 2,83% este ano. Se repetir o
mesmo crescimento médio do governo Lula, ou seja, 0,64% por
trimestre, terminará o ano crescendo somente 2,77%.
O Credit Suisse, que já apostava em crescimento em torno de 3%, hoje
acredita que há mais probabilidade de ser menos que isso. O Itaú acha
que é razoável esperar uma aceleração no terceiro trimestre deste ano
para algo perto de 1%. "Mas, mesmo que isso aconteça e o crescimento
do quarto trimestre também seja alto, o crescimento de 2006
provavelmente ficará entre 3% e 3,4%", diz o Informativo Semanal do
Itaú.
O gráfico abaixo, elaborado pela GAP Asset, mostra o PIB acumulado em
12 meses. O último dado, que considera os dois últimos trimestres de
2005 e os dois primeiros de 2006, mostra que, no período, o
crescimento foi de 1,7%. No entanto, o consumo das famílias,
empurrado pelo aumento da renda e pelo crédito fácil, vem crescendo
acima dos 3% há oito trimestres (agora, por exemplo, está em 3,5%).
"Temos $paradoxo: a sensação térmica da população em geral é bem mais
positiva do que os dados de PIB sugerem, o que explica a popularidade
do governo, apesar do PIB", diz Alexandre Maia, da GAP.
Na visão dele, o resultado do PIB deixa claro as assimetrias atuais
da economia. Enquanto vão bem o consumo das famílias e áreas como
mineração, petróleo e construção civil, há setores que, com o impacto
do câmbio, vão muito mal, como calçados, móveis e têxteis, sem falar
em alguns produtos do agronegócio.
A previsão da GAP é que, este ano, o crescimento do consumo seja bem
superior ao crescimento do PIB. O primeiro ficaria em 4% e o PIB, em 3%.
Uma das razões de este ser um ano decepcionante é, sem dúvida alguma,
a taxa de juros. Se a inflação está bem abaixo da meta, se o PIB está
menor até do que o Banco Central havia projetado, está claro que
houve erro de dosagem da política monetária.
Mas certamente o BC não é o único culpado. A política fiscal do
governo é desestruturante. O gasto cresceu além do aumento da
arrecadação, o que indica que novo aumento de arrecadação terá que
haver no futuro. A explicação do governo de que não foi a carga
tributária que cresceu, mas, sim, a Receita que arrecadou mais é
tosca. Primeiro, porque houve mudanças que implicaram elevação de
impostos; segundo, porque a arrecadação aumentou além do crescimento
do PIB; terceiro, porque o mais preocupante é o ritmo constante de
aumento de despesas, permitindo projetar novos aumentos de carga
tributária no futuro.
Os dados do PIB divulgados esta semana foram piores que o esperado
porque ficou claro que uma das razões do fraco desempenho é a queda
do investimento. O país está crescendo pouco, e a queda do
investimento indica que continuará crescendo pouco no futuro. Há
vários desequilíbrios na economia brasileira que não têm sido
enfrentados e, por isso, o número ruim da semana não é apenas um
episódio, mas um sintoma de uma economia que não consegue reencontrar
o caminho do crescimento sustentado. Continua avançando menos do que
pode e precisa.