o globo
O fracasso da economia vai ser explorado com vigor pela oposição, mas é muito difícil que ela convença o eleitorado de que a situação econômica não é tão boa quanto o governo diz que é. Isso porque os efeitos dessa desaceleração, captada agora pelo IBGE nos números do segundo trimestre, só serão sentidos pela população de maneira geral, e mais especificamente pela população de baixa renda, no ano que vem. Com o PIB crescendo a apenas 0,5% no segundo trimestre, dificilmente a economia conseguirá crescer além de 3% no fim do ano, e entrará em 2007 em declínio. Se somarmos a isso a necessidade evidente de cortar custos para que o equilíbrio fiscal se mantenha, e um panorama internacional que não será nem parecido com o que tivemos até agora, vemos que o futuro de nossa economia não é dos mais brilhantes.
No momento, as classes menos favorecidas, que são o grande apoio de Lula, especialmente no Nordeste, continuam se sentindo muito bem, graças aos efeitos que estão em ação de medidas econômicas que geraram um aumento de renda efetivo, como a distribuição do Bolsa Família, o aumento real do saláriomínimo, que se refletiu nas aposentadorias, e o reajuste dos servidores públicos. Nada disso acontecerá novamente no próximo ano, mas até lá Lula já estará reeleito, se não houver mudança de percepção do eleitorado.
Como Lula vence não apenas no Nordeste, mas em todas as regiões do país e também em todas as classes sociais e níveis de renda, com exceção dos eleitores com curso superior e renda acima de dez saláriosmínimos, é a faixa do eleitorado de classe média que voltou para Lula, após um primeiro momento de frustração, que o resultado da economia e as decisões demagógicas e eleitoreiras do governo podem afetar.
A questão é saber se esse eleitorado encontrará um candidato que lhe pareça uma alternativa melhor ao governo que está posto.
A eleição deste ano está muito parecida com a de 1998, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno com 53,1% dos votos. A economia brasileira começava a dar sinais de deterioração devido à valorização do real, exatamente como agora, e pairava no ar a certeza de que a moeda teria que ser desvalorizada a qualquer momento.
Lula, candidato oposicionista, pressionava na campanha televisiva, acusando o governo de estar esperando apenas o resultado da eleição para desvalorizar o real, o que realmente acabou ocorrendo logo no início de 1999, com uma crise cambial que ameaçou levar a economia ao fundo do poço.
Pois a tentativa do PT de então era levar a disputa para o segundo turno, onde as críticas à política econômica subiriam de tom, enquanto poderia ficar mais claro para o eleitor que o real valorizado prejudicava a economia e estouraria mais adiante, embora trouxesse vantagens pessoais aos cidadãos, como o barateamento dos preços de alimentos e, subsidiariamente para a classe média, a possibilidade de comprar importados mais baratos e fazer viagens internacionais.
Tudo igualzinho como hoje, embora não houvessem na ocasião condições propícias para outras manobras eleitoreiras. Naquele ano, segundo o economista Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas, a proporção de redução de renda apresentou níveis bastante superiores aos observados nos três episódios pré-eleitorais onde a política econômica claramente ajudou o candidato do governo, produzindo os maiores crescimentos de renda na população, tal como agora.
Por exemplo, a proporção de analfabetos com reduções de renda nos períodos préeleitorais de 1986, 1989, 1994 é de 28,6%, 37,6%, 36,3%, respectivamente, enquanto em 1998 esse índice chegou a 49,6%. Definitivamente, diz Néri, são números não compatíveis com um eventual caráter eleitoreiro da política econômica vigente.
Mesmo com algumas circunstâncias adversas, o então presidente Fernando Henrique se reelegeu no primeiro turno, numa corrida contra o tempo. Jogando sempre com a segurança que o Plano Real representava, especialmente no controle da inflação.
É essa mesma segurança que o presidente Lula está vendendo hoje à população, com a taxa de juros mais baixa dos últimos anos e uma inflação controlada abaixo da meta oficial. Entre os economistas, uma constatação chama a atenção: quem está reelegendo Lula, a serem confirmadas as pesquisas eleitorais, é a política atacada como ultra-ortodoxa do Banco Central. Se a inflação não estivesse tão baixa, o efeito da Bolsa Família e do salário-mínimo não seria tão forte no dia-a-dia dos menos favorecidos.
Mesmo no anúncio do crescimento pífio do PIB do segundo trimestre, há uma indicação a mais de que os de renda mais baixa estão sendo favorecidos pela conjuntura econômica atual: o setor de serviços foi dos poucos que cresceu, o que significa renda mais alta para os que dele vivem.
Na eleição de 1998, o presidente Fernando Henrique foi reeleito com apenas três pontos percentuais acima da soma dos demais candidatos, ficando Lula em segundo com 31,7% dos votos e Ciro em terceiro com 11%, e Enéas teve 2,1%. Outros oito candidatos tiveram no total 2,2% dos votos dos eleitores. Hoje, a campanha de Alckmin acha que se ele chegar a 32% dos votos, Heloísa Helena se mantiver na faixa dos 10% e Cristovam subir para a casa dos 2% ou 3%, haverá segundo turno.
Na verdade, em todas as regiões do país está dando segundo turno, com exceção do Nordeste, onde Lula abre uma vantagem espantosa, com cerca de 70% dos votos.
É lá onde também se concentra a maioria do eleitorado com renda até cinco saláriosmínimos, público-alvo majoritário do Bolsa Família. Mas é lá também que historicamente existe um índice maior de votos nulos, em branco e abstenção que no resto do país. Essa é uma conta que os tucanos fazem.
Entrevista:O Estado inteligente
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