Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 21, 2006

Mera coincidência SERGIO COSTA

folha

RIO DE JANEIRO - Está aberta a temporada de livres associações. Com escândalos em série, é inevitável a tentação de procurar paralelos históricos que possam dar algum sentido a essa maluquice que nos cerca. Depois da analogia Lula/ Freud com Getúlio Vargas/Gregório Fortunato, vão além do sufixo algumas semelhanças entre o "Dossiêgate" e o caso Watergate.
Nos EUA (e aqui), tudo começa com uma trapalhada: um grupo de ex-agentes da CIA preso arrombando a sede do QG da campanha adversária, em Washington, para instalar escutas. O momento não poderia ser mais inoportuno também: às vésperas das eleições, com o presidente em exercício apontado como favorito. Richard Nixon, sempre alegando ignorância sobre atos de seus próximos, foi reeleito numa avalanche de votos.
Seu oponente - sujeito politicamente correto e antibelicista- ficaria com a pecha do homem errado na hora certa, por sua falta de jeito para atrair eleitores. Depois, virou álibi para quase todo arrependido: "Não tenho nada com isso, votei em [George] McGovern", lia-se nos bottons (uma moda) à época.
Quanto mais os jornalistas seguiam a pista de um dinheiro não-contabilizado que servia, entre outras coisas, para bisbilhotar segredos dos adversários, mais o escândalo detonado pela trapalhada republicana encurralava o presidente reeleito. Um a um, Nixon acabou rifando amigos e assessores. Até seu vice caiu fora. Isolado, renunciou para fugir do impeachment.
Esse foi o fim dessa história por lá. Por aqui, o jogo ainda está em aberto. Qualquer semelhança entre os dois casos, como costumam prevenir alguns filmes nacionais ou de Hollywood, terá sido mera coincidência. Alguns enredos cheios de desculpas, assessores trapalhões e uso de dinheiro escuso, infelizmente, só mudam de cenário.

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