Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 08, 2006

VEJA Adeus ao PC de fundo de quintal



As vendas de computadores
de marca já empatam com as
dos montados com peças piratas


Duda Teixeira

Fabiano Accorsi
Rua Santa Efigênia, em São Paulo: produtos originais no paraíso da pirataria


Os fabricantes brasileiros de computador estão se preparando para comemorar uma grande virada até o Natal deste ano. Pela primeira vez, as vendas de PCs de marca devem superar as das chamadas máquinas cinza, aquelas recheadas com memória, processador e programas contrabandeados ou piratas. De acordo com a International Data Corporation (IDC), consultoria que realiza pesquisas de mercado na área de tecnologia e telecomunicações, dois anos atrás os PCs montados em fundo de quintal representavam 74% das vendas. No início deste ano, já tinham sua fatia reduzida para 57%. A mudança afeta as pequenas empresas, que sobrevivem na informalidade, sem prestar contas à Receita Federal, e o montador de micros – aquele amigo da família que já prestou serviços a toda a vizinhança com peças das quais nem ele sabe a procedência. No lugar deles, entram os produtos de fabricantes conhecidos como Positivo, HP e Dell.

As vantagens para o consumidor nesta nova fase começam pelas formas de pagamento. Enquanto é praticamente impossível conseguir crédito com os contrabandistas, as lojas e os sites de fabricantes ou de comércio eletrônico dividem o valor em dez vezes sem acréscimo ou, em alguns lugares, em 24 vezes com juros de no mínimo 1,99%. O valor mensal, nesse último caso, oscila entre de 50 e 70 reais, o que tornou o computador acessível até mesmo à classe C, que representa um terço da população brasileira. Depois da compra, caso o consumidor tenha algum problema, agora há a quem recorrer. Pode-se usar o auxílio por telefone (de eficiência ainda um pouco aquém da desejada, é certo) ou utilizar a garantia. Também é de esperar que o rodízio entre fabricantes diminua. Se antes marcas como Microtec e Five Star apareciam e sumiam do dia para a noite, agora se pode presumir que os nomes que estão nas gôndolas durem por muito mais tempo.

Vários fatores contribuem para baixar o preço do PC. O mais importante é a queda no preço do dólar. O câmbio favorável barateou a importação de componentes pelos grandes fabricantes. Também ajudou a ação da Polícia Federal contra o contrabando, principalmente em Foz do Iguaçu, tradicional porta de entrada de muamba eletrônica. A Medida Provisória 252, a MP do Bem, de meados do ano passado, reduziu a cobrança de PIS-Cofins e deixou os chamados micros populares, com preços de até 2.500 reais, pelo menos 10% mais baratos. Os notebooks produzidos no Brasil de até 3.000 reais foram igualmente beneficiados, o que fez dobrar as vendas dos PCs portáteis no ano passado.

Com tudo isso, a diferença de preços entre a máquina cujo fabricante paga todos os impostos e aquela montada na informalidade caiu vertiginosamente. Com peças compradas na Rua Santa Efigênia, um dos paraísos da pirataria na capital paulista, uma máquina de configuração básica pode sair 14% mais barata que a similar vinda da fábrica – a diferença é pequena demais para compensar o risco de defeitos e a falta de garantia do produto cinza. "O governo baixou impostos e deixou que a iniciativa privada tomasse a dianteira. É a coisa certa", diz Ivair Rodrigues, diretor de pesquisas da ITData Consultoria.

A mudança no comércio de computadores segue a tendência iniciada pelas impressoras. Em 1998, quando as primeiras empresas começaram a fabricar no Brasil impressoras de jato de tinta, o contrabando representava 80% das vendas. Dois anos depois, caiu para 30%. Hoje, as quatro empresas com fábricas no Brasil, HP, Lexmark, Epson e Xerox, comprimem o mercado cinza a míseros 5%. "Com 65% dos componentes nacionais, conseguimos um preço muito competitivo", diz Luis Tedesco, gerente de produtos de imagem e impressão da HP. A probabilidade de reviravolta nos preços dos PCs é pequena. O maior risco seria uma variação repentina do dólar devido às incertezas do ano eleitoral. Os fabricantes acreditam que as mudanças serão sutis, com o dólar custando em torno de 2,4 reais até o fim do ano. "Uma elevação de 10% a 15% não traria um aumento expressivo dos preços, pois aproximadamente metade dos componentes de uma máquina não depende das oscilações do câmbio", diz Hélio Rotenberg, diretor da paranaense Positivo Informática, atual líder nacional entre os fabricantes de PC.

Não compensa

A diferença de preço em relação ao PC de marca
é tão pequena que o montado em fundo de quintal
não vale mais a pena

CONFIGURAÇÃO
Processador Intel Celeron D325, 256 Mb de memória RAM, disco rígido de 40 GB, gravador de CD, controladora de vídeo e som, leitor de disquete 1,44 Mb, teclado, mouse, caixas de som, fax-modem, monitor de LCD de 15 polegadas, Windows XP Starter Edition

TOTAL
Computador montado: 1 719 reais*
Computador de marca: 1 999 reais**
Diferença: 14%

*Preços da Rua Santa Efigênia, o centro de produtos eletrônicos em São Paulo
**Preço médio em supermercados

Internet virou item obrigatório

Por que comprar um computador pessoal? A resposta para a maioria das pessoas: para se conectar à internet. Uma pesquisa da ITData, consultoria com sede em São Paulo, mostrou que, entre os homens, o interesse maior é manter-se informado, o que só pode ser feito com o uso da internet. Os idosos dos grandes centros urbanos querem se comunicar com os filhos e navegar na internet. O objetivo de mulheres e crianças é aprender com o computador, o que é bastante facilitado pela internet. "O acesso à rede mundial de computadores é hoje um recurso básico de qualquer equipamento", diz Ivair Rodrigues, da ITData. "Não há um sequer que seja vendido sem esse item." A importância dos sites e e-mails fez com que mais brasileiros deixassem de se conectar à internet pela linha telefônica e adquirissem planos de acesso rápido. De acordo com o Ibope NetRatings, que mede a audiência na internet, 68,2% das conexões residenciais hoje já são em alta velocidade. A porcentagem da população com acesso evoluiu bastante. Dos 180 milhões de brasileiros, 13,2 milhões se conectam de casa. "O total de pessoas com acesso à internet é maior, 32,1 milhões", diz Alexandre Magalhães, coordenador de análise do Ibope NetRatings. "Muitos acessam a rede do trabalho, de bibliotecas ou de telecentros."

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