O Globo
4/7/2006
A saída do ministro Roberto Rodrigues a poucos meses das eleições
justifica que se acompanhem com atenção as ações do governo no setor
agrícola. O seu substituto, Luís Carlos Guedes, secretário-executivo
do ministério, parece ser a pessoa indicada para ocupar o cargo nas
circunstâncias: conhece a máquina, é engenheiro agrônomo, por sinal
colega de turma de Roberto Rodrigues na USP, e tem um passado de
proximidade com o PT.
Tanto quanto quem assume o cargo, tem importância o momento em que
sai Rodrigues, um ministro estratégico para o governo Lula, por ter
sabido aproveitar-se do ciclo mundial de forte alta dos preços de
alimentos e matérias-primas e consolidar a posição do país como
potência agrícola. Rodrigues decidiu sair em uma hora grave, quando a
conjugação de cotações em baixa no mercado externo e valorização do
real impulsiona custos e asfixia receitas. Essa coincidência maligna
colocou o ministro em ampla frente de batalha para conseguir que o
erário ajudasse agricultores a refinanciar dívidas, enquanto
administrava pressões da bancada ruralista, especializada em usar
situações como esta e conseguir benesses injustificadas.
Preocupa a troca de ministros nessa conjuntura. Não só porque a
atividade precisa mesmo de apoio — nos casos de comprovada
necessidade — mas também pelo risco de o clima eleitoral contaminar
decisões. Por exemplo, na questão dos índices de produtividade usados
para a desapropriação de terras com vistas à reforma agrária.
Com motivos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
comemorou o pedido de demissão do ministro, um empecilho à
manipulação desses índices com o objetivo de incluírem terras
produtivas no programa de reforma agrária. Mais grave ainda será
elevar esses parâmetros numa fase de crise.
Como a modernização da agricultura praticamente eliminou o
“latifúndio improdutivo” clássico, faltam terras para o MST, bem como
sem-terra, haja vista o recrutamento de desempregados urbanos pelo
movimento. O candidato Luiz Inácio Lula da Silva pode muito bem ser
tentado a fazer um gesto eleitoreiro, mesmo que aumente a insegurança
em um dos mais dinâmicos segmentos da economia. A ausência de Roberto
Rodrigues deve aumentar essa tentação.