13/7/2006
Políticos, na crise da segurança paulista, travam uma batalha
retórica que confunde e ofende a opinião pública
O PERÍODO eleitoral tem prejudicado a tarefa de identificar causas e
estabelecer linhas de ação apropriadas para enfrentar a crise na
segurança pública no Estado de São Paulo. Políticos envolvidos no
episódio têm se lançado a um esgrimismo retórico que os afasta cada
vez mais da realidade; que confunde, frustra e ofende a opinião pública.
Na terça-feira, durante o dia, o governador Cláudio Lembo disse que a
facção criminosa PCC "não domina mais" os presídios paulistas. A
seguir, uma nova onda generalizada de ataques, iniciada na noite
daquele dia, veio mostrar que a realidade não se harmoniza com suas
palavras.
Mais triste foi notar a permanência da atitude truculenta e avessa à
prestação de contas que tem marcado a atuação do secretário da
Segurança Pública, Saulo Abreu. Agora chegou ao desplante de
insinuar, sem qualquer evidência, que este jornal, ao publicar uma
lista de presos a serem transferidos para um presídio federal, tenha
tido responsabilidade na nova crise -embora esta tenha começado antes
de a notícia ter sido publicada.
De sua parte, diante da nova rodada de agentes de segurança
covardemente assassinados, ônibus queimados, supermercados alvejados,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reincidiu na demagogia e se
esforçou em vender a falsa impressão de que seu governo tem uma saída
emergencial para a crise -o envio da insondável Força Nacional de
Segurança e/ou do Exército-, mas esbarra na recusa das autoridades
paulistas. Sejamos claros: nem o Exército nem a força federal estão
em condições de fazer diferença na luta contra a ofensiva dos
bandidos em São Paulo.
Não tem se saído melhor que Lula o seu adversário tucano. Como
escreveu Elio Gaspari, ontem nesta Folha, Geraldo Alckmin se esmera
em tergiversar quando confrontado com as conseqüências de um problema
que cresceu sob sua gestão -deixou há menos de quatro meses o governo
de São Paulo, após cinco anos de exercício do cargo.
Todos pensam apenas nos votos que poderão perder ou ganhar dando esta
ou aquela declaração, evitando este ou aquele tema. Incapazes de ler
o presente, ignoram a necessidade imediata dos paulistas: confiar em
que as principais autoridades públicas restabelecerão a ordem e não
permitirão que os autores da selvageria fiquem impunes.
Ninguém deve esperar milagres. Ataques genéricos como os perpetrados
pelo PCC são difíceis de evitar em qualquer parte do mundo -o
problema foi o PCC ter chegado à dimensão atual. Ondas de atentados,
por outro lado, oferecem oportunidades à polícia: a quadrilha se
expõe e seus integrantes podem ser identificados e presos.
É nesse ponto que a ação emergencial se encadeia com outra, mais
longa, cujo objetivo é impor uma derrota definitiva à organização
delinqüente. Nesse ponto se deve adensar, e muito, a articulação de
instituições nas esferas estadual e federal, no Executivo, no
Legislativo, no Judiciário e no Ministério Público. Basta de
demagogia eleitoreira.