O Globo
7/7/2006
A melhor notícia boa é a inesperada. Ontem o IBGE divulgou uma produção industrial de maio acima da previsão e puxada pelos bens de capital, ou seja, pelo investimento, pela produção de máquinas e equipamentos. O crescimento de maio na comparação com abril foi maior até do que a mais alta das expectativas do mercado. Nada disso abalou o pessimismo do presidente da Abimaq, Newton de Mello: “Mudamos a nossa previsão para queda neste ano.”
Na avaliação da MB Associados, a expansão de bens de capital está bastante concentrada em máquinas para a construção e para a energia elétrica. Não estão crescendo, por exemplo, as máquinas comuns para as indústrias, que estão em queda de 5,1% no acumulado de 12 meses. O crescimento é desigual e pode não ter tanta consistência quanto o número divulgado ontem sugere.
O setor de construção civil tem crescido bastante, com a maior oferta de crédito imobiliário e aumento da renda. No primeiro trimestre, cresceu 7% na comparação com o ano anterior e o Sinduscon-SP acredita que a tendência é continuar em alta. Além da construção civil, aumenta a quantidade de obras de infra-estrutura por causa do ano eleitoral.
Newton de Mello admite aumento de venda de máquinas para construção, mas lembra que o número é bom porque comparado aos de anos muito ruins. O que sempre aumenta os dados de máquinas são as agrícolas e estas vão muito mal:
— O que mais consome máquina é grãos e algodão, mas, com a crise, eles não estão comprando. No ano passado, a venda de máquinas agrícolas caiu 70%. Este ano, no primeiro trimestre, mais 40%. Temos hoje 17% do mercado de 2004. Por outro lado, estão bem as vendas para a indústria do petróleo.
Para ele, nem a recente queda na TJLP pode mudar o quadro que tem considerado ruim:
— O que determina compra de máquina é menos o custo do financiamento e mais a rentabilidade que ela pode dar e isso está bastante comprometido em setores como calçadista, de autopeças e de tecidos.
A realidade tem mesmo vários lados: a Abimaq registrou em sua pesquisa 19% de crescimento em maio. Mas, no ano, o acumulado é de queda de 0,4% no faturamento nominal. Por isso, os produtores acham que um mês bom não marca uma tendência. Para se ter uma idéia, no acumulado até maio, os desembolsos do BNDES para máquinas caíram 12% na comparação com 2005.
Quanto aos bens intermediários, que também cresceram segundo o IBGE, a MB acredita que as greves da Receita Federal e da Anvisa podem ter ajudado a aumentar a produção interna para substituir o produto que não conseguia sair do portos. Mas o que mais preocupa a MB é o fato de o Brasil estar crescendo — ou não — de maneira muito distinta nas diferentes regiões, o que pode comprometer um crescimento sustentado.
Fim da história: a notícia é melhor que a encomenda, mas parece estar restrita a maio. Infelizmente.
México: regras inibem nova contagem
O México afunda na sua crise com a decisão do candidato oposicionista, López Obrador, de não reconhecer o resultado e convocar uma manifestação. Com 100% das urnas apuradas, a diferença ficou em 0,57 ponto percentual ou 236.006 votos.
Obrador disse que vai recorrer ao Tribunal Eleitoral para que haja nova contagem voto a voto (quase um milhão de pessoas participaram do processo de contagem). Para isso, é preciso abrir os “paquetes” eleitorais, onde são lacrados, depois de contados, os votos, as cédulas não usadas naquele local de votação e as cópias dos documentos eleitorais. Esses pacotes não podem ser reabertos indiscriminadamente, como quer López Obrador. Têm que ser abertos por motivo justo, como letra ilegível, informação incompleta. Houve um caso em 2000 em que foram abertos sem critério e isso acabou provocando a anulação da eleição.
O pior cenário para o México é ter sua eleição contestada, ter a população insuflada para manifestações contra o resultado eleitoral confirmado em duas contagens, e iniciar um governo sob o signo da dúvida e da falta de legitimidade. Mas é este cenário que está se confirmando nas últimas horas.
Conflito de interesses
A declaração de renda do presidente Lula informa um pequeno investimento em ações da Petrobras e do Banco do Brasil.
Por menor que seja, é um grande exemplo de como no país se entende pouco o que seja conflito de interesses.
Petrobras e Banco do Brasil são empresas estatais com acionistas privados. O presidente da República tem poder de mando nessas empresas como representante máximo do acionista controlador; é ele quem nomeia os executivos e a ele chegam informações antes de todos os outros acionistas; em outras palavras, informações privilegiadas.
Enquanto exercer o cargo que exerce, pelos próximos meses ou anos, o presidente Lula tem que se afastar das ações de estatais.