Panorama Econômico
O Globo
6/7/2006
O México está vivendo uma das mais eletrizantes eleições de sua vida.
Ontem, ao fim desta edição, com quase 80% das atas contadas, López
Obrador, da oposição, liderava com diferença de dois pontos
percentuais. No meio da tarde, quando ele já estava na dianteira, a
Bolsa do México mudou o sinal de positivo dos últimos dias e passou a
cair. Fechou em 4% de queda. Politólogos foram apanhados de surpresa.
Tudo isso poderia ter sido evitado se houvesse no país o segundo turno.
Os com-empregada não querem pagar
O ministro Luiz Marinho, quando era sindicalista, nunca se preocupou
com o custo empresarial de suas reivindicações, mas agora quer vetar
o FGTS para empregada doméstica. E recobre sua preocupação com um
suposto zelo com o empregado: argumenta que pode haver mais
informalidade.
A elite do operariado, que ele liderava no Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC, acumulou, durante anos, inúmeras vantagens às quais os outros
trabalhadores nunca tiveram acesso e, nos últimos tempos, ainda
lutava por um privilégio que até em países ricos caiu em desuso: nova
redução na jornada de trabalho sem diminuição de salário.
O ministro deve achar que existem duas classes de trabalhadores, e
que é normal que os domésticos sejam menos iguais que os outros.
Marinho não está sozinho; tem o apoio dos ricos e da classe média. No
Brasil, os com-empregada não querem entender que este é um trabalho
que custa caro em qualquer país do mundo. Aqui tem ficado mais caro e
vai continuar assim porque é uma tendência irreversível. Dar aos
trabalhadores domésticos os mesmos benefícios de trabalhadores
formais é absolutamente normal e desejável.
O que a nova lei propõe? FGTS, multa de 40% nas demissões, um dia de
folga por semana e respeito aos feriados. Nada extravagante, apenas
vantagens normais de outros empregados. Os patrões e as patroas do
Brasil, com a ajuda do ministro do Trabalho, ameaçam com demissões em
massa e informalidade. Ora, sem empregada a classe média não fica e,
na informalidade, já estão milhões desses trabalhadores. O que o
ministro tem que fazer é encontrar fórmulas de induzir à
formalização. Tomara que encontre modos mais criativos do que mandar
a conta para o Tesouro. Poder descontar no Imposto de Renda parte do
gasto com empregado representa exatamente isto: que o Estado paga
parte do salário da empregada. E o Estado brasileiro, país com
enormes desigualdades e carências, deveria ter outras prioridades.