Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 03, 2006

Míriam Leitão - Mais protegidos

Panorama Econômico
O Globo
1/7/2006

A reunião do Fed esta semana produziu, num primeiro momento, um clima
de alívio. Mesmo os que acham que os juros continuarão subindo nos
Estados Unidos, não confiam mais em cenário de altas que cheguem a 6%
de juros. A instabilidade ainda não acabou, mas já se pode constatar
que o Brasil passou melhor que outros países pelas semanas de
turbulência. Esta semana teve até uma melhora na classificação de
risco, enquanto a Turquia fazia seu segundo aumento de taxa de juros
desde que a crise começou.

A Turquia não chegou a ser rebaixada, mas a Standard & Poor’s piorou
a perspectiva de sua classificação de risco. Mudou de positiva para
estável. Eles estão um degrau piores que a gente.

— As agências estão preocupadas com o caso específico da Turquia mas,
felizmente, hoje parece que não há mais tanta preocupação com o
contágio para os outros países. Isso fica claro quando o rating do
Brasil melhora e o da Turquia piora na mesma semana — comenta o
economista Ricardo Amorim, do WestLB.

Um documento do Bradesco enviado a seus clientes esta semana afirma
que o mercado está diferenciando os países. Melhor para nós. Em
outros momentos, quando o mundo entrava em crise, era normal que
problemas num país acabassem piorando as condições nos outros. Crise
num país emergente significa um investidor mais cauteloso. Porém, os
números recentes mostram que o mercado está passando a olhar caso a
caso quando se trata desse tipo de país.

O fato de o Brasil ter feito ajuste na conta corrente, de ter
melhorado seus números externos, tem ajudado muito no momento. Ainda
assim, os analistas do Bradesco ressaltam que “o Brasil, por ter
mercados líquidos, acaba sendo mesmo uma porta de saída para
investidores interessados em reduzir sua exposição a essa classe de
ativos”. Ou seja, às vezes os números brasileiros pioram não por
aumento do pessimismo, mas pela liquidez dos ativos brasileiros. O
banco acredita que, depois de passado o primeiro momento de susto, os
investidores começam a fazer uma seleção mais criteriosa para separar
o joio do trigo, preservando os países com melhores fundamentos.

O primeiro gráfico abaixo, por exemplo, mostra a variação do risco
desde o início da crise (usando a média de abril) até seu ponto
máximo em cada país. O risco-país da Turquia deu um salto de 78,8%, o
da África do Sul também subiu muito: 59,9%. O Brasil, que costumava
sofrer bastante em épocas de volatilidade, piorou menos, por causa
dos fundamentos mais sólidos, sustenta o Departamento Econômico do
Bradesco.

A Turquia e a África do Sul são dois países que estão com números
muito ruins nas suas contas. A previsão do FMI para o déficit em
conta corrente é de que chegue a 4,8% do PIB este ano, para o caso da
África do Sul, e a 6,9% de déficit na Turquia. O dólar, que subiu um
pouco no Brasil neste começo do ano, chegou a disparar na Turquia e a
moeda precisou ser defendida pelo Banco Central com duas altas de
juros e venda de moeda americana no mercado. A África do Sul também
subiu os juros. Enquanto isso, por aqui, eles caíram e a expectativa
é de que continuem caindo.

O déficit em conta corrente tem deixado mais voláteis também as
moedas dos países, como é possível ver no outro gráfico. Quando um
país tem superávit em conta corrente, é menos atingido. Porém, o
Bradesco chama a atenção para o fato de que, na bolsa, não houve
diferenciação entre os mercados. O Brasil sofreu o mesmo que outros
países com piores indicadores.

Ontem, as bolsas voltaram a ficar mais instáveis depois de uma quinta-
feira muito boa. Passado o primeiro momento de otimismo, começou a
cair a ficha de que o Fed não afastou o risco de novas altas de juros
por lá em agosto. Há dois anos, no fim de junho de 2004, quando eles
subiram pela primeira vez, o mercado dizia que seriam 18 altas nos
juros. A de ontem foi a 17. Se estiverem certos...

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