Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 16, 2006

Merval Pereira Coisas do PMDB- Jornal O Globo



Pelas contas do momento — esses números mudam à medida que as negociações avançam, ou que as pesquisas ajudam a solucionar problemas, ou pioram as relações políticas regionais — PSDB e PFL terão palanque único em 15 estados, dois palanques em dez estados e palanques confusos em dois ou três estados, dependendo do ponto de vista. Todos, não por coincidência, envolvendo o PMDB. No Espírito Santo, o governador Paulo Hartung, do PMDB, é apoiado por uma coligação tão grande que ninguém considera que seu palanque seja utilizável. Mas, se algum candidato a presidente puder usufruir dele, este será Geraldo Alckmin, já que a coligação local engloba PSDB e PFL. Mas uma coligação informal, incluindo o PT, também o apóia.

Em Alagoas, o senador Renan Calheiros apóia Lula, mas seu grupo político fechou acordo com Teotônio Vilela, o candidato a governador do PSDB. Ao contrário, no Paraná, o governador Requião será o coordenador da candidatura Lula em nível nacional, mas será apoiado pelo PSDB em nível local. Coisas do PMDB, cuja situação política ainda é indecifrável.

Hoje, dez estados estariam com Lula, (Minas, Ceará, Pará, Maranhão, Paraíba, Alagoas, Amazonas, Sergipe, Amapá e Roraima), que representam 27,47% do eleitorado; dez com Alckmin (Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina, Espírito Santo, Piauí, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre), representando 26,70% do eleitorado. E sete estariam de palanque aberto: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Tocantins, que correspondem a 45,01% do eleitorado.

Mas as coisas não são tão simples assim quando se trata do PMDB. Pode-se começar tirando o Rio Grande do Sul dos certos a favor de Alckmin, embora essa seja a tendência final devido à polarização do PMDB com o PT. Em São Paulo, que tem 22,27% dos eleitores do país, apesar da decisão de Orestes Quércia de não dar seu palanque para nenhum dos dois candidatos, é provável que a maioria dos prefeitos seja liberada e se defina pela candidatura de Serra, que no momento tende a ganhar a eleição no primeiro turno.

Lá, segundo a análise dos anti-governistas, a tendência é ficar 80% a 20% a favor de Alckmin, até porque Lula perde a eleição hoje no estado. Mesmo os prefeitos que apoiarem Quércia devem votar em Alckmin para presidente, uma maneira de agradar indiretamente ao PSDB de Serra. O fator “crime organizado”, porém, faz com que qualquer previsão em São Paulo seja arriscada.

No Rio de Janeiro, não haveria indecisão alguma entre Lula e Alckmin, mas entre o ex-governador Garotinho e o prefeito Cesar Maia, para saber quem será o interlocutor de Alckmin. O grupo político do prefeito considera que Sérgio Cabral caminhará para Lula, pois no Rio Alckmin já está definitivamente identificado com Maia. Além do mais, o voto D e E, do grupo do ex-governador Garotinho, cruza com o de Lula. Naturalmente, Denise Frossard, do PPS/PFL vai apoiar o Alckmin.

Em Goiás, onde Alckmin já está ganhando de Lula, o PMDB tem uma briga estadual irreversível com o PSDB, mas não nacionalmente. Íris Rezende já estaria liberando seu pessoal para apoiar Alckmin. No Rio Grande do Norte, a coligação é PMDB, PFL, PP. Mas as negociações prosseguem para puxar o grupo político dos Alves para a coligação. O ex-relator da CPI dos Bingos, Garibaldi Alves, está em cima do muro, mas não vai poder ficar, pois Lula vai apoiar a candidatura de Wilma Faria, do PDT.

No Mato Grosso, o governador Blairo Maggi, na análise do grupo pró-Alckmin, vai ter que apoiar Alckmin porque a base dele toda é anti-Lula, que é considerado “a praga da agricultura brasileira”. Ele vindo, o PMDB vem junto porque tem o vice. Em Tocantins, o PT acabou não apoiando a reeleição do governador Marcelo Miranda, mas ele também não pode apoiar formalmente Alckmin, porque o grupo político de Siqueira Campos, que controla o PSDB e o PFL lá, é seu adversário.

Santa Catarina está resolvido com o apoio do governador Luiz Henrique, mas no Paraná a situação tende a permanecer confusa porque o senador Álvaro Dias aceitou a aliança, mas ninguém acredita no Roberto Requião, “está todo mundo com os dois pés atrás”, na definição de um dirigente da aliança.

Álvaro Dias, por sua vez, já declarou que votará no irmão, o também senador Osmar Dias (PDT), adversário de Requião na corrida ao Palácio do Iguaçu. O PSDB nacional quer impugnar a aliança com o PMDB, pois Requião será o coordenador da campanha de Lula no Sul do país e não cederá seu palanque para Alckmin. Os coordenadores acreditam, porém, que o crescimento de Alckmin no Sul vai ajudar a consolidar os palanques.

No Norte, está sendo programada uma ida de Alckmin a Manaus para fechar o acordo com Amazonino Mendes, candidato do PFL. A senadora Roseana Sarney, no Maranhão, tem chance de vir para o apoio a Alckmin, porque o governo vem jogando pesado a favor de Edson Vidigal, criando uma situação constrangedora para o ex-presidente José Sarney, um dos principais defensores da reeleição de Lula no PMDB.

Pela análise dos anti-governistas, Alckmin terá uma grande vantagem sobre Lula no partido, ao contrário do que acena “a turma dos Correios”, como passaram a identificar os peemedebistas que apóiam a reeleição de Lula, numa referência aos políticos que nomearam antecipadamente a direção dos Correios. “Venderam ao presidente terreno na Lua”, comenta, irônico, o deputado Eliseu Padilha, coordenador do grupo pró-Alckmin no PMDB.

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