Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 11, 2006

Luiz Garcia - Novos remadores

O Globo
11/7/2006

Uma das virtudes dos sistemas bipartidários é dispensar alianças
eleitorais pagas com fatias da máquina estatal.

Nos Estados Unidos, por exemplo, as jogadas sujas do processo se
limitam à criação de Comitês de Ação Política, que obtêm doações de
funcionários de empresas e sindicatos (com um teto de cinco mil
dólares por cabeça) para campanhas eleitorais.

Dependendo do índice de honestidade na Casa Branca, as doações dos
comitês têm a contrapartida de variados favores políticos, leis e
contratos federais. Fora isso, dívidas eleitorais costumam ser pagas
com embaixadas. O jogo sucessório, sabe-se, não é inteiramente limpo
— mas fica longe do que ocorre no Brasil.

Aqui, as alianças entre legendas são indispensáveis, e o preço pode
ser alto demais. A entrega dos Correios ao PMDB para garantir a
reeleição do presidente Lula é exemplo notável — especialmente pela
ausência total de pudor. Ou de memória, o que dá mais ou menos no
mesmo. Afinal, foi a politização do comando dos Correios que gerou o
esquema de corrupção que quase desmontou o primeiro mandato de Lula.
E, mesmo assim, o PT não tem agora a menor hesitação em usar a mesma
estatal para comprar o apoio do PMDB na campanha pela reeleição.

Depois do escândalo, aparentemente já esquecido, a empresa de 110 mil
funcionários — livre das nomeações de estranhos no ninho escolhidos
por PMDB, PT e PTB — passou a ser comandada por técnicos apolíticos.
Graças a isso, teve no ano passado o segundo maior lucro de sua
história. Houve modernização das operações e aumento do tráfico
postal. Principalmente, os Correios limparam seus quadros.

Agora, o comando técnico sai de cena; entram, no que é apenas a
primeira etapa da invasão, presidente e três diretores indicados pela
ala governista do PMDB. Seria injusto acusar a priori o novo comando
de desonesto. Mas quando se substitui uma equipe técnica, que estava
dando certo, por um time de políticos, e isso acontece às vésperas de
uma eleição, é inevitável temer que suas decisões serão mais
políticas (no pior sentido do termo) do que técnicas. Mudar as
prioridades, é óbvio, modifica os resultados.

Em tese, pode-se admitir que o novo comando dos Correios esteja sendo
entregue a pessoas bem intencionadas. Mas é preciso perguntar do que
elas entenderão mais: administração postal ou produção e remuneração
de lealdade partidária? Segundo o líder do governo no Senado, Romero
Jucá, entregar fatias inteiras da máquina do Estado a partidos
aliados produzirá “mais agilidade de gestão, pois todos os nomeados
de uma dada pasta passam a remar na mesma direção”.

Quando o PTB mandava nos Correios, o pessoal também remava na mesma
direção, com grande agilidade. Apetite, então, nem se fala.

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