Deu no jornal "El País" dias atrás: "só" metade das famílias espanholas está em condições de comprar um apartamento de 100 m2. No Parque do Retiro, uma espécie de Ibirapuera madrileno, um imóvel desse tamanho está anunciado por 354 mil euros (R$ 980 mil). Quantas famílias brasileiras podem comprar algo assim?
A pensar que a Espanha entrou no século 20 "pobre, atrasada, ignorante", como diz Alfonso Guerra, deputado socialista que foi vice-primeiro-ministro nos oito primeiros anos do governo Felipe González, a partir de 1982. E ainda enfrentou uma guerra civil (1936/39) e uma ditadura horrorosa nos 38 anos seguintes.
Nada muito diferente do Brasil no período, fora a guerra.
Hoje, 86% dos espanhóis são proprietários de imóvel. Nos 30 últimos anos, fazem-se mais quilômetros de rodovias em 18 dias do que se construía antes por ano.
A distância entre a Espanha e o resto da Europa Ocidental reduziu-se a magros 10%. Já o Brasil continua comendo poeira.
Onde é que eles acertaram e nós erramos? Um dos fatores (nunca há um só) são os famosos Pactos de Moncloa que, no Brasil, vira e mexe alguém quer copiar e nunca ninguém consegue.
Como foi possível fazer um pacto envolvendo governo, oposição, direita, esquerda, sindicatos, patronato? "A guerra civil pesava como uma lápide. Pensamos mais em nossos netos que em nós, para que não tivessem que viver outra vez uma guerra ou uma ditadura ou a miséria", responde Guerra.
Tomara que a guerra do PCC sobre São Paulo ou do Comando Vermelho no Rio tenha sobre as elites brasileiras o mesmo efeito. Torço, mas duvido. A elite brasileira é tão nanica, especialmente o mundo político. Pensa nos netos, sim. Deles e só deles.