"Se Materazzi, o jogador da seleção italiana de
futebol, aparecesse por aqui, esse é o método
que ele usaria para enfurecer os petistas. Ele
diria: vote em Geraldo Alckmin. Ou: sua irmã
vota em Geraldo Alckmin. Basta pronunciar essas
palavras que os petistas saem distribuindo testadas"
Vote em Geraldo Alckmin.
Eu disse isso mesmo? Disse sim. Disse e repito: vote em Geraldo Alckmin. É o melhor jeito de importunar os petistas. E importuná-los é o dever de todo brasileiro esclarecido. Os petistas aceitam ser chamados de mensaleiros. Eles aceitam ser chamados de quadrilheiros. Nada disso os afeta. Nada disso os ofende. No último ano, eles aprenderam a tirar de letra os piores insultos. O único ponto que realmente os importuna é a idéia de perder o poder. De entregar os cargos. De atrapalhar os negócios. Se Materazzi, o jogador da seleção italiana de futebol, aparecesse por aqui, é o método que ele usaria para enfurecer os petistas. Ele diria: vote em Geraldo Alckmin. Ou, de acordo com a leitura labial da Rede Globo: sua irmã vota em Geraldo Alckmin. Basta pronunciar essas palavras que os petistas saem distribuindo testadas.
Eu sei que me arrependerei deste artigo. Ele me perseguirá pelo resto da carreira. Ficará grudado em mim como uma alface no dente da frente, avacalhando minha imagem, cobrindo-me de vergonha. Geraldo Alckmin é um mau candidato, tem um mau partido e, se eleito, será um mau presidente. No futuro, terei de imitar aqueles jornalistas petistas que pediram votos para Lula e depois passaram a simular imparcialidade. Em tempos normais, eu argumentaria que é melhor se abster do que votar. É melhor ir à praia do que votar. É melhor ficar cochilando no sofá do que votar. Só que este é um momento particular. Os petistas precisam ser punidos pelo mensalão. E sobrou apenas uma maneira de puni-los: tirá-los do poder votando em Geraldo Alckmin. É pouco? Claro que é pouco. É um amesquinhamento? Claro que é um amesquinhamento. Mas agora é tarde demais. Todos os mecanismos democráticos falharam, e restou somente essa saída plebiscitária, essa saída bolivariana, essa saída bananeira. Com os petistas ou sem os petistas. Com Lula ou sem ele.
Meu primeiro compromisso como cabo eleitoral de Geraldo Alckmin é ignorá-lo até outubro. Vou parar de ler seus discursos na imprensa. Vou parar de ver seus programas na TV. Quero simplesmente tapar o nariz e votar. Quem desenvolveu a técnica de votar de nariz tapado foi Indro Montanelli. Montanelli era uma espécie de Materazzi do jornalismo. Na campanha eleitoral de 1976, a Itália estava rachada no meio. De um lado, os democratas-cristãos, com sua conhecida pilantragem. Do outro lado, os comunistas, com seus impulsos totalitários. Montanelli não pestanejou. Num editorial, aconselhou os eleitores a tapar o nariz e votar nos democratas-cristãos. Foi o que aconteceu. Os democratas-cristãos, que estavam atrás em todas as pesquisas de opinião, recuperaram terreno e venceram. Um ano depois, os terroristas das Brigadas Vermelhas se vingaram de Montanelli metralhando suas pernas. O princípio de votar de nariz tapado até hoje permanece válido. Consiste em reconhecer que, se um partido é ruim, o outro é ainda pior. Se um candidato é perigoso, o outro é ainda mais.
Vote em Geraldo Alckmin. Sua irmã vota em Geraldo Alckmin.