Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 07, 2006

Clóvis Rossi - Na sombra

Folha de S. Paulo
7/7/2006
Sempre que alguém impede que entre a luz do Sol nas suas atividades,
pode apostar: há alguma coisa mal-cheirosa nelas.
O PT e o governo Lula especializaram-se na tarefa de tapar o sol
desde que explodiu o caso do mensalão. Quando sua mulher vai ao banco
para receber um dinheiro que não pode explicar, é melhor dizer que
ela foi pagar a prestação da TV a cabo, certo? É o que fez
inicialmente um deputado do PT, João Paulo Cunha, lembra-se?
Foi mais ou menos assim ao longo de todo o escândalo. Agora, tem-se
outro caso turvo, o da viagem do ex-ministro José Dirceu à Bolívia,
revelada por esse excelente repórter chamado Fabiano Maisonnave.
Dirceu diz a Mônica Bergamo que não confirma nem desmente a viagem.
Quem não tem o que esconder confirma ou desmente no ato.
Depois, enrolam-se os responsáveis pelo aluguel do avião privado em
que viajou o ex-ministro. De novo, a peneira tentando evitar que
passe a luz.
Aí, de duas uma: ou Dirceu foi mesmo em missão oficial, extra-oficial
ou algo parecido, o que é intolerável, porque tanto o Itamaraty como
o assessor diplomático da Presidência, Marco Aurélio Garcia, são
infinitamente mais competentes do que o ex-ministro na matéria.
Além disso, quem foi punido por falta de decoro, no único tribunal a
que podia, então, ser levado, não pode continuar trabalhando para o
governo. É indecente.
Ou foi tratar de assuntos particulares de algum interessado, o que,
aí sim, seria perfeitamente normal. Desde que não se tape o sol.
Qualquer que seja a verdade, se é que não há uma terceira hipótese
(nas sombras, tudo é possível), fica claro que o "revolucionário" que
Dirceu diz ser morreu na rua Maria Antônia faz uns 30 anos. Agora, é
de "business" que se trata. Só.

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