Folha de S. Paulo
18/7/2006
George Walker Bush, com a boca cheia de pão, foi flagrado ensinando o seguinte a seu colega britânico Tony Blair:
"Veja, a ironia é que o que necessitamos fazer é conseguir que a Síria faça o Hizbollah parar com essa merda, e acabou-se".
O pior de tudo é que, linguagem rasteira à parte, Bush tem razão: só há uma maneira de acabar com o conflito, e é domar o Hizbollah.
É claro que podem ser feitas mil e uma considerações éticas, mil e uma condenações ao uso excessivo da força por parte de Israel, mil e uma lamentações sobre mortes de inocentes (dos dois lados da fronteira, é bom que se diga).
Por justas que sejam, não mudarão a "merda".
A desproporção na resposta israelense já foi apontada pela União Européia e pela ONU, para não esticar demais a lista.
Não adiantou nada.
O fato é que Israel decidiu, já faz um tempinho, adotar a lógica da força e acostumou-se a ganhar com ela sistematicamente. Não há forças armadas capazes de rivalizar com o Tzahal, o Exército israelense. Grupos como o Hizbollah ou o Hamas só teriam alguma chance se Israel levasse em conta, nas suas retaliações, o custo em vidas de não-combatentes, o que deixou de acontecer faz tempo.
Logo, Israel só vai parar se e quando reduzir o Hizbollah à impotência, ainda que, no percurso, o Líbano vire pó (como a faixa de Gaza praticamente já virou).
O único erro nessa lógica é que, a médio prazo, ela reforça o terror em vez de submetê-lo. Israel reduziu Iasser Arafat a nada, no pressuposto de que ele estimulava o terrorismo. Quem o substituiu, no entanto, foi o Hamas, que não estimula o terrorismo; é o terrorismo, segundo Israel.
Submeter o Hizbollah será ainda mais complicado. Logo, a "merda" tende a continuar, enquanto não tirar o pão da boca dos poderosos.