11/7/2006
Uma última palavra sobre o equívoco a respeito da redução da
desigualdade no Brasil a partir de 1995, quando começam, no governo
FHC, as bolsas-esmola, que Lula ampliou.
Ajuda-memória: a única fonte para medir a redução da desigualdade é a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, que tem um grave
problema: quem vive só de salário (ou de doações do governo) tende a
declarar tudo o que ganha.
Quem, além da renda de sua atividade, recebe também juros de
aplicações financeiras, tende a não declarar pelo menos parte do
ganho. Estudo de economistas do Ipea demonstrou que 90% desses
rendimentos não são declarados.
Conseqüência: aumenta a renda dos mais pobres (por causa das bolsas),
que é totalmente declarada, mas aumenta igualmente a renda dos sem-
bolsa mas com-juros, que é subdeclarada.
Cai a desigualdade na pesquisa, mas não na vida real.
Agora, um estudo do economista Marcio Pochmann, que é petista e,
portanto, insuspeito de participar da suposta conspiração contra o
governo Lula, prova que os 10% mais ricos do país e que têm dinheiro
aplicado a juros obtiveram um rendimento médio financeiro real (acima
da inflação) de 65,8% entre 2001 e 2004, ao passo que os 20% mais
pobres (que vivem da renda do trabalho) tiveram um aumento nos ganhos
de 19,2%.
Ou, posto de outra forma: a renda dos ricos cresceu três vezes mais
que a renda dos pobres.
Não há hipótese, nas circunstâncias apontadas, de que se reduza de
fato a desigualdade.
Não se trata de interesse meramente acadêmico. O brasileiro tolerou
tempo demais uma desigualdade obscena. Supor, equivocadamente, que
ela está caindo, mesmo microscopicamente, só reforçaria a tolerância.
E a obscenidade.