Nesta quarta-feira, o Copom deverá cortar os juros em mais meio ponto porcentual, para 14,75% ao ano. Se esse movimento se confirmar, serão os juros mais baixos dos últimos 31 anos.
Não dá para ignorar o avanço. No entanto, como a inflação deste ano, medida pelo IPCA, está embicando para abaixo dos 4%, os juros reais (descontada a inflação) continuarão expressados em dois dígitos (acima dos 10% ao ano) e, nessas condições, estarão entre os mais altos do mundo que se considera civilizado. O corte de quarta-feira perfará uma queda total de 5 pontos porcentuais desde setembro de 2005 o que não é pouca coisa. O afrouxamento no Brasil veio na contramão do que aconteceu no resto do mundo, que aplicou um aperto monetário que talvez ainda não se completou.
Esses movimentos estreitaram a diferença entre juros internos e externos. Em agosto de 2005, os juros básicos no Brasil estavam nos 19,75% ao ano enquanto nos Estados Unidos eram de 3,50% ao ano (diferença de 14,25 pontos). Quarta-feira, deverão estar, respectivamente, em 14,75% e 5,25% (diferença de 9,50 pontos).
Esse estreitamento torna mais difíceis as operações de arbitragem (tomada de dólares emprestados lá fora para aplicação no Brasil a juros mais altos). O maior problema dessas operações para quem as faz é o risco do câmbio, ou seja, é endividar-se numa moeda e ficar credor em outra. De uma hora para outra, o câmbio pode mudar e pôr a perder na volta ao dólar o que eventualmente renderam com juros as aplicações em reais. Enfim, o que era encorajado quando a diferença de juros era de 14,25 pontos pode ficar desestimulado quando a diferença cai para 9,50 pontos.
Outra conseqüência desses movimentos opostos nos juros é a de que a economia brasileira começou a crescer justamente quando a produção tende a perder força no exterior.
Embora o Banco Central já tenha acenado com "parcimônia" no uso da tesoura, é provável que a temporada de cortes prossiga em pelo menos duas das três últimas reuniões do Copom programadas para agosto, outubro e novembro deste ano.
A principal indicação disso é o fato de que o próprio Banco Central não esperava a inflação negativa de junho (-0,25%). Ao contrário, contava com uma inflação positiva de 0,25%, como consta no último Relatório de Inflação, o que aumenta a folga para corte dos juros. O forte recuo da inflação em junho deveu-se a dois fatos positivos inesperados: queda dos preços dos alimentos e do álcool. O reajuste negativo das tarifas telefônicas deve ajudar a manter a inflação de julho negativa ou relativamente baixa.
Contra esse pano de fundo positivo para a inflação pesam dois fatores contrários: certa recuperação nos preços dos alimentos e o inevitável reajuste dos preços dos combustíveis. O Banco Central não conta com reajustes da gasolina e do gás de cozinha neste ano e é improvável que a Petrobrás dê esse passo antes do segundo turno das eleições (29 de outubro). Esse impacto não pode ser desconsiderado porque a atual relação de juros já está construindo a inflação do ano que vem.
É preciso pontuar que nunca os prognósticos do mercado para a próxima reunião do Copom (queda dos juros em meio ponto porcentual) foram tão consensuais como agora. Enfim, o Banco Central está conseguindo gerenciar as expectativas, objetivo importante da autoridade monetária na condução do sistema de metas de inflação.