O GLOBO
Uma boa notícia: o Brasil saltou do 17 para o 7lugar na preferência dos investidores da economia real. Não se trata de quem tem interesse nos juros altos e no lucro rápido, mas, sim, de quem vem para ficar; o chamado investimento direto. A AT Kearney faz a mais importante pesquisa do humor desse tipo de investidor. No relatório que será divulgado hoje — e que nós, deste Panorama Econômico, conseguimos ver ontem — o Brasil subiu dez pontos no ranking.
Como não existe notícia perfeita, aqui vão alguns senões: nos primeiros anos desta pesquisa, que começou em 98, chegamos a estar em terceiro e quarto lugares; entre os BRICs — lista dos países com mais potencial, Brasil, Rússia, Índia e China — o país está no fim da lista e ainda sendo superado pela Polônia; em alguns setores estratégicos como telecom, o Brasil não está na lista dos dez mais atraentes. Os campeões, China e Índia, estão atraindo mais investimento de Pesquisa e Desenvolvimento no mundo.
Mesmo assim é um alívio, para quem acompanha esta lista, ver o salto do pior lugar já obtido — o 17 do ano passado, para o 7. Estamos na frente de países desenvolvidos, como Alemanha, França, Japão, Itália e Canadá; e de competidores, como México e Coréia do Sul. A outra boa notícia é que fomos o terceiro com a melhor mudança de perspectiva. Na América Latina, quem melhorou também foi o México, mas está muito atrás de nós: era o 22 e foi para o 16.
A lista é feita com base em entrevistas com os mil maiores investidores de investimento direto do mundo. Quem responde à pesquisa sobre o grau de atratividade dos países é quem tem poder na companhia: presidentes, diretores financeiros ou de estratégia, vice-presidentes, diretores.
Pela primeira vez o primeiro e o segundo lugar no ranking estão com países em desenvolvimento: China e Índia. Os Estados Unidos, que já foram os primeiros, anos atrás foram superados pela China e agora estão em terceiro, atrás da Índia.
Para os investidores norte-americanos, o Brasil é o quinto mais atrativo, mas essa é a nossa melhor colocação. Para os europeus, somos o nono mais atrativo e, para os asiáticos, nem estamos na lista dos quinze primeiros. O Brasil é considerado o terceiro mais atraente do mundo para os investidores do setor de varejo e atacado, só perdendo para China e Índia. Normalmente o que pesa aqui é o tamanho do mercado interno e as perspectivas de expansão do consumo. Está também na lista dos dez mais dos investidores do setor primário e de manufaturados. É considerado o sexto mais atraente para o fabricante de automóveis. Mas não está na lista dos dez primeiros dos setores de serviços financeiros e não financeiros, nem no de telecom e serviços públicos. Essa ausência mostra o calcanhar-de-aquiles do Brasil: falta de segurança regulatória. A AT Kearney avisa que esses setores estão repensando o país e podem voltar. Depende, no entanto, da estabilidade de regras.
No mundo, em 2004, houve um aumento do total de investimento estrangeiro pela primeira vez desde 2000, quando chegou ao pico. Naquele ano, US$ 1,4 trilhão atravessou as fronteiras dos seus países de origem atrás de melhores oportunidades. Depois do 11 de Setembro, houve um aumento do interesse das empresas em terem grandes reservas monetárias. As companhias americanas estão com nada menos que US$ 1 trilhão, cash . Esse incremento de investimentos externos em 2004, porém, foi de apenas 2%, totalizando US$ 648 bilhões. Houve um aumento de 41% no investimento nos países em desenvolvimento e queda de 14% nos países desenvolvidos.
Brasil e México estavam na moda no fim dos anos 90 e começo da atual década. Depois, voltaram-se todos para a China e agora quem está na moda é a Índia. Do bolo total de investimento externo planejado para o futuro, 42% querem ir para a Índia, 17% para a China, 11% para a Europa, 5% para os Estados Unidos e o Brasil está na lista do "resto do mundo". O que interessa na Índia é ser "IT oriented" ou, uma economia voltada para a indústria de tecnologia.
O que esse investidor mais teme são problemas regulatórios, depois instabilidade monetária e cambial, o conhecido risco-país e distúrbios sociais e politicos. A AT Kearney destaca que houve um aumento de 80% no Investimento Direto em 2004. Mas é sempre bom lembrar que foi um ano bastante atípico por causa da troca de ações na compra da AmBev. Mesmo assim, melhoramos, isso é que importa.
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