O PSDB deve ser o único partido no mundo em que um candidato favorito não é favorecido pelo favoritismo — se me permitem a lambança tautológica. Para alguns, é como se a preferência do eleitorado fosse um prejuízo, um peso de que querem se proteger. Parece que os ouço: "Não, este não. Está na frente nas pesquisas. Não pode!"
É mais ou menos o que se verifica com o nome de José Serra — até agora o único a vencer Lula num eventual segundo turno. Pode mudar? Pode. Mas é assim enquanto escrevo. Satisfação nas hostes tucanas? Há os que se mostram inquietos. O argumento maroto é o de que pesquisas refletem a realidade do momento. Sei. Futuro certo é só com a Mãe Dinah. Também acho que favoritismo não é critério absoluto: depois de Lula, é recomendável aporte intelectual. Pergunta: caso Serra deixe de ser o mais bem colocado, suas chances aumentam?
Usa-se como argumento contra as pesquisas a candidatura de FHC em 1994, que largou atrás. Teria deslanchado depois de conhecido. Lorota. Era o homem do Real: havia domado a inflação. O trunfo lhe valeu duas eleições. É história. Os tucanos precisam é de projeto e de voto. Ainda não têm o primeiro, mas alguns se apressam em dar de ombros para o segundo. Os petistas devem acompanhar cheios de esperança esse jeito Toninho Cerezo de trocar passes no campo defensivo.
Compreendo que o governador Aécio Neves (MG) não queira que a disputa implique a nacionalização de uma disputa paulista. Mas não deve dar espaço para que sua fala se confunda com um veto de endereço certo. Mesmo que não queira, dado o quadro, pode estar colaborando objetivamente para a reeleição de Lula. O governador Geraldo Alckmin (SP), por sua vez, diz que prefere mirar o futuro a atacar o presidente, o passado. Anunciou que não vai criticá-lo se for para a disputa. O problema do petismo está longe de ser apenas ético. A corrosão do caráter é só uma das faces de um esforço para desconstituir a democracia. E há, claro, a economia. Para onde vamos? A crítica é um imperativo da política.
Serra, por seu turno, tem de abandonar a ambigüidade. É pré-candidato ou não? É. Por vontade sua, claro, mas também de quem se mostra disposto a votar nele. Candidaturas são construções políticas. Espero que seja ele? Espero é que seja um método! Qual? Ideologicamente, divirjo da média dos tucanos faz tempo. Alguns devem me achar muito "conservador". Por mim, Lula já teria sido deposto pela Constituição há muito — em nome da legalidade, não o contrário. O PSDB é que inventou essa história de deixá-lo esvair-se em público. Um tanto por cálculo perigoso e outro por respeito basbaque à sua suposta biografia virtuosa. É o tipo de coisa que só dá certo se der certo... Sou mais operístico do que essa peça minimalista.
Pouco me importa quem será o candidato tucano. Apenas acho um absurdo o favoritismo se tornar um empecilho. Não é racional. Ademais, a questão fundamental é outra: qual é o projeto? Será a continuação do paloccismo, mas com ar refrigerado e um pouco mais de ética? É pouco! Quais são os interlocutores do partido para definir o nome? Um candidato não é uma mala vazia à espera de demandas a granel. Certos tucanos são sabidos demais para se dobrar aos fatos. Então, boa sorte! Que, ao menos, se organizem para 1) passar pelo crivo no primeiro turno (só ganha o segundo quem passa pelo primeiro); 2) reconquistar os votos que já têm caso os desprezem na largada; 3) conseguir os outros, que farão a diferença.
PS: O PSDB e o PFL poderiam, aliás, prestar um grande serviço ao país. Propor à base governista um acordo para extinguir a reeleição. Mandato único de cinco anos para quem assumir o Executivo em 2007 (presidente e governadores). O mesmo valendo para a sucessão dos prefeitos a partir de 2009. Quem for reeleito ganha um ano a mais do que o esperado. É um peso, sei disso. Mas a reeleição tem custado muito mais caro. Pensem nisso.