Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Editorial de O GLOBO

Ao trabalho

A cassação do deputado e ex-ministro José Dirceu tem vários desdobramentos e aspectos positivos. O mais evidente é o gesto da maioria dos deputados, de entendimento do que deseja a opinião pública. Diante das evidências e provas, documentais e testemunhais, de que funcionou um propinoduto petista para sedimentar a base parlamentar do governo, numa grande operação ilegal que não poderia passar ao largo do todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, o destino de Dirceu não poderia ser outro.

Também por tudo que já foi descoberto, a perda de mandato do líder petista precisa ter seqüência em novas punições. É um engano considerar que a degola de Dirceu teria preenchido uma hipotética cota de cassações. Punir a falta de decoro e a imoralidade pública não é questão de dosagem, maior ou menor. Todo aquele considerado culpado pelo uso de dinheiro de origem espúria — dê-se ao esquema o nome de mensalão, ou qualquer outra denominação — precisa ser alijado da vida pública, sendo-lhe garantido direito pleno de defesa. Como no caso do ex-ministro.

Um desdobramento alvissareiro do resultado da sessão extraordinária da Câmara dos Deputados na noite de quarta e madrugada de ontem é ela poder funcionar como válvula de descompressão da atmosfera carregada do Congresso. Os parlamentares, de oposição e situação, podem, e precisam, baixar o tom de voz, restabelecer o espaço do convívio democrático entre contrários, para a fase final de trabalho nas CPIs transcorrer da maneira mais eficiente possível, e a pauta de votações do Congresso ser cumprida.

Dela constam itens a serem deixados de lado — por exemplo, um arremedo de reforma política extemporânea e o estatuto da suposta igualdade racial.

Mas há também questões-chave. O Orçamento é tema óbvio. Num momento de desequilíbrio emocional, a oposição chegou a ameaçar não votá-lo caso o Supremo não resolvesse as demandas jurídicas de Dirceu. Outros assuntos de destaque são a lei favorável à pequena empresa e a tramitação do projeto da Super-Receita.

A eliminação de um foco de paixão política e conflito ideológico fará bem ao Congresso. Se os parlamentares ajudarem.

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