Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

INVESTIGAR OS FUNDOS

A CPI dos Correios está diante da possibilidade de retirar ao menos parte do véu que tem encoberto a utilização dos fundos de pensão de empresas estatais para operações escusas. Ontem, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) apresentou relatório à CPI dos Correios no qual aponta indícios de irregularidades e constata perdas suspeitas nessas instituições, estimadas em R$ 730 milhões. A investigação concentra-se em operações com títulos públicos e no mercado futuro no período de 2000 a 2005.
Os fundos de pensão estão entre os principais investidores do Brasil, possuindo ativos da ordem de R$ 300 bilhões. Os mais poderosos são aqueles vinculados a empresas controladas pela União, como o Banco do Brasil, a Petrobras e a Caixa Econômica Federal.
Nesse território, a disputa política é parte do jogo. Mudanças de governo resultam invariavelmente em troca na direção dos fundos. Os dirigentes dessas instituições dividem-se entre os eleitos pelos funcionários (geralmente sindicalistas, quase sempre ligados ao PT) e os indicados pela patrocinadora (anteriormente tucanos, agora petistas e seus amigos). O problema é que a influência política está presente na decisão sobre investimentos. Os fundos de pensão tornaram-se grandes acionistas de companhias privadas e atuam nos mercados imobiliário e financeiro.
Seus dirigentes, portanto, bem como os apaniguados de políticos indicados para conselhos de empresas, tendem a possuir informações privilegiadas de mercado, o que favorece a realização de operações nebulosas com a participação de corretoras.
Embora a quebra do sigilo dessas instituições possa repercutir na opinião pública, ela, na prática, representa pouco. Para avançar, a CPI precisaria solicitar à Bolsa de Mercadorias & Futuros (BMF) a lista dos negócios que envolveram perdas e as notas de corretagem registradas nos livros de contabilidade dos fundos. Também seria proveitoso enviar técnicos para colher informações no mercado de São Paulo, onde se concentram os negócios.
A questão é saber se a CPI pretende realmente levar as investigações às últimas conseqüências ou se irá se contentar com muitos holofotes e poucos resultados.

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