FOLHA DE SÃO PAULO - 08/06/11
A melhor expectativa para a inflação futura seria a média ponderada entre a meta e a inflação passadaA ACELERAÇÃO recente da inflação veio acompanhada de uma velha conhecida: a indexação, caracterizada pelo reajuste de preços e de salários de acordo com a inflação passada.
Nessas condições, o custo para desinflacionar a economia é mais alto do que seria caso os reajustes de salários e de preços fossem determinados apenas pelas expectativas sobre a inflação futura, em particular quando o Banco Central consegue convencer a sociedade acerca do seu comprometimento com a meta de inflação.
Com efeito, num cenário de alta credibilidade tanto empresas quanto trabalhadores tendem a reajustar seus preços em valores próximos à meta, desviando-se dela apenas em resposta ao estado cíclico da economia: quando a economia está aquecida, as condições se tornam mais propícias para aumentos de salários e repasses de preços e vice-versa.
Nesse caso, a redução da inflação envolve tipicamente alguma desaceleração do crescimento abaixo do seu potencial por algum tempo, mas nada muito além disso. Por outro lado, quando preços e salários refletem (mesmo parcialmente) a inflação passada, a tarefa de trazer a inflação de volta à meta se torna mais difícil.
Ainda que a economia se desacelere relativamente ao seu potencial, parcela de preços e de salários continuará reagindo aos aumentos observados em períodos anteriores.
Sob tais circunstâncias, a desaceleração requerida para reduzir a inflação será mais profunda (ou mais prolongada, ou ainda uma combinação de ambas). Não é difícil, portanto, entender por que bancos centrais abominam tal conduta. Isso dito, embora seja tentador imaginar que a indexação tenha raízes históricas e culturais (transparente, por exemplo, no uso frequente da expressão "cultura de indexação"), muito provavelmente esse comportamento surge em resposta a condições econômicas bastante concretas.
De fato, alta credibilidade do BC não parece combinar com indexação; já a prevalência desse comportamento aparenta resultar de uma percepção de baixo compromisso do BC com a meta.
Essa última questão é geralmente caracterizada como uma resposta insuficiente do BC em termos da taxa de juros quando a inflação esperada se desvia da meta. Posto de outra forma, se a inflação esperada atinge, digamos, 1% acima da meta, a boa gestão monetária requer que o BC responda com aumento da taxa nominal de juros superior a 1%, levando ao incremento da taxa real de juros (a taxa nominal menos a expectativa de inflação), que traria a inflação de volta à trajetória.
Caso o BC não siga essa regra, a inflação não retorna à meta e tende a reproduzir a inflação passada, mas, como deve ficar claro, a indexação seria, nesse contexto, consequência -e não causa- do descontrole inflacionário. Não há, contudo, indicações de que o BC brasileiro tenha adotado tal posição. Pelo contrário, houve elevação da taxa real de juros.
Por outro lado, o problema pode estar relacionado à velocidade de ajuste da taxa de juros, em particular à adoção de uma política de aperto muito gradual.
É possível mostrar que, com ajustes mais lentos da taxa de juros, a melhor expectativa para a inflação futura seria uma média ponderada entre a meta de inflação e a inflação passada, mesmo se o BC gozasse de plena credibilidade acerca de seu compromisso com a meta.
Adicionalmente, quanto mais gradual fosse o ajuste da taxa de juros, tanto maior seria o peso atribuído à inflação passada na formação das expectativas.
A intuição é simples: se o BC prefere, como sua comunicação deixa claro, promover o retorno lento da inflação à meta, os agentes ajustarão suas expectativas para refletir esse processo e, mais uma vez, a indexação será resultado da posição de política monetária.
Vale dizer, ainda que seja compreensível que o BC reclame da indexação quando tenta baixar a inflação, não pode fugir da responsabilidade de ter acordado o leão adormecido.