O Estado de S.Paulo - 27/06/11
Má notícia para a presidente Dilma Rousseff: o canavial está feio no interior de São Paulo. Choveu muito no começo do ano e faltou luz para as plantas se desenvolverem. A cana cresceu pouco, vai perder produtividade. Entre si, usineiros falam em quebra de 10% da safra. Menos cana significa menos etanol e/ou menos açúcar. Ao mesmo tempo, cresce a frota de carros flex e a demanda por álcool combustível no Brasil. A combinação é inflamável.
O cenário para 2012 está sendo pintado com renovada pressão inflacionária, fermentada pelo preço dos combustíveis. No próximo ano há eleições municipais, essenciais para os partidos formarem seu cacife para o pleito presidencial (e de governadores mais Congresso) em 2014. Ano de eleição com inflação complica qualquer governante. Conter gastos e agradar o eleitor é como assobiar e chupar cana ao mesmo tempo.
O plano do governo para o setor, segundo reportagem do jornal O Globo, é usar a divisão de biocombustíveis da Petrobrás para aumentar a oferta de etanol, especialmente durante a entressafra (dezembro a março). Quer que a estatal petrolífera pule de 5% para 12% da produção de álcool combustível no País. Montar apresentação em PowerPoint é fácil, plantar dezenas de milhares de hectares de cana do jeito certo, nem tanto.
Basta recordar o caso da Brenco. Formada com capital de US$ 1 bilhão e comandada por um ex-presidente da Petrobrás, a empresa fez planos para construir uma dezena de usinas novas em regiões de terra mais barata, onde não havia experiência prévia com plantação de cana. Os dólares foram enterrados, mas nenhum saco de açúcar ou litro de álcool surgiu deles. Foi um dos maiores fiascos da história do agronegócio.
"Tomamos uma posição porque este ano houve elevação grande do preço do etanol. Não houve escassez do produto. Mas, se não agirmos agora, pode haver crise semelhante com o preço do álcool no próximo ano", disse o ministro Edison Lobão ao Globo. A frase revela que seu autor entende tanto de agricultura quanto de física quântica.
A safra de 2011 está parcialmente colhida. A de 2012 já está em grande parte plantada. Nada que o governo decidir agora terá efeito relevante sobre elas. Se Lobão e companhia quiserem evitar que a falta de etanol provoque alta dos preços dos combustíveis em 2012, precisarão importar gasolina ou álcool dos EUA. E torcer para que a crise econômica norte-americana continue, ou os EUA podem não ter excedente para exportar. Ou seja, o que é bom para Barack Obama pode não ser bom para Dilma, e vice-versa.
O presidente norte-americano disputa sua reeleição no próximo ano e depende de a economia do seu país se recuperar para ele ganhar de volta a popularidade perdida. Até agora Obama não tem tido sucesso em seus estímulos econômicos. O carro continua parado, mas isso não quer dizer que o motor não acabe pegando no tranco após um dos muitos empurrões do governo.
Estado de alerta. A mais recente pesquisa Datafolha sobre o governo Dilma e a visão dos brasileiros sobre a economia acendeu uma luz amarela. A popularidade da presidente não caiu, mas as pessoas estão ficando pessimistas, acham que os preços vão continuar a subir e têm mais medo de perderem o emprego. Expectativas desse tipo são autorrealizáveis (consumidores desconfiados consomem menos). Some-se escassez de algo que tem impacto profundo na economia, como combustíveis, e o que era ruim pode ficar pior.
Como a história recente de EUA e Brasil confirmam, o bolso é a parte mais sensível do eleitor. A oposição tem mais chances de ganhar quando a economia não vai bem.
No caso de Dilma, inflação com baixo crescimento pode implicar não apenas dificuldades para os candidatos petistas a prefeito. Significa mais problemas com o PMDB. Os aliados estão atentos a qualquer sinal de fraqueza da presidente para aumentar o preço da sua fatura. Comportam-se como vírus oportunista à espreita do enfraquecimento do sistema imunológico do hospedeiro.
Mas pode ser que os investimentos de empresas como ETH e Petrobrás em regiões menos castigadas por São Pedro frutifiquem dentro do cronograma previsto e acima do volume esperado, pode ser que o ministro Lobão se mostre um novo Einstein e pode ser que o mercado seja inundado de etanol barato. Afinal, quase toda semana um sortudo ganha na Mega Sena.
Entrevista:O Estado inteligente
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