Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 23, 2011

Fed diz que fez o que podia Alberto Tamer -

O Estado de S.Paulo
O FMI alertou para o risco crescente de uma nova crise, a OCDE, mais conservadora, afasta a hipótese de recessão, e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve ontem as taxas de juros em torno de 0,5 negativo - já descontada a inflação. Bernanke disse que o Fed já fez o que deveria fazer para reanimar a economia e a resposta foi menor do que ele esperava. Não vai aumentar a liquidez comprando mais títulos do Tesouro, mas manterá em sua carteira os US$ 2,3 trilhões que adquiriu desde o inicio da crise para ajudar a tirar o país da recessão.

Ou seja, nada muda por enquanto e os estímulos criados serão mantidos, mas não aumentados. A nova previsão agora é que o PIB cresça entre 2,7% e 2,9%, abaixo da estimativa de abril, de 3,1% e 3,3%. Os próximos trimestres serão melhores, mas não se espera algo muito diferente do que ocorre hoje, afirma Bernanke.

Não contem comigo. Em outras palavras, não contem muito com um crescimento maior da economia americana. E o déficit? E a dívida e o corte nos gastos para os quais o FMI alertou esta semana? Bernanke insinua que essas questões devem ser encaradas com cautela. "Eu não acredito que um forte corte imediato no déficit criaria mais empregos", afirmou ele. O assunto deve ser tratado em "um horizonte mais longo." O importante, agora, é obter do Congresso uma elevação no nível de endividamento para continuar atraindo investimento e afastar riscos para o sistema financeiro internacional.

Interrogado sobre até quando o Fed iria manter os juros negativos - o que já dura três anos -, Bernanke disse que era difícil prever. E insistiu que o Fed não pensa em novos estímulos após terminar o movimento de compra de US$ 600 bilhões. Não vai injetar mais dólares no mercado, mas não vai retirar o que direta ou indiretamente já criou.

Quanto à crise grega, o Fed continua observando atentamente, com menor exposição dos bancos americanos. E, de novo, não contem demais com a gente, deu a entender Bernanke. Só que não se pode contar também com a União Europeia e muito menos com o Japão. Restam os países emergentes e em desenvolvimento, com a China e o Brasil desacelerando.

Dólar minguando. Bernanke acredita num recuo ou pelo menos na estabilização dos preços das commodities, mas a política monetária expansionista dos Estados Unidos está desvalorizando ainda mais o dólar e elevando os preços das commodities. Isso explica a alta de 1% na cotação do petróleo. O presidente do Fed acredita num recuo nos próximos meses com o menor crescimento da demanda dos Estados Unidos e da China, mas os juros negativos do Fed e do Banco Central Europeu continuam atraindo investidores que obtém mais lucros no mercado de commodities.

O FMI e outras instituições do mercado admitem que os investimentos em papéis dos países emergentes continuarão aumentando com a atração de juros e rendimentos maiores. No Brasil, isso se acentua ainda mais com a nova alta da taxa do Selic para conter a demanda e a inflação. Os investidores começam a ser mais cautelosos com a China. Há sinais de novos riscos no sistema financeiro local com o endividamento das empresas estatais.

Brasil é a opção. O Brasil surge como uma opção rentável e segura. A melhora do risco do país esta semana, por duas agências, torna as aplicações financeiras no Brasil ainda mais atraentes. Vai continuar entrando mais dólares no País, fruto do desempenho da economia, das finanças públicas, do sistema financeiro saudável e pela nova elevação dos juros.

O Brasil caminha na contramão dos outros países, crescendo acima dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, que representam quase 60% do PIB mundial. O cenário externo, porem, é cada vez mais negativo. Tudo indica que os países emergentes deverão contar apenas com seus mercados internos para manter o crescimento atual. O desafio é a inflação acima de 5% no Brasil, China e Índia, que deve ser controlada sem afetar o PIB. Podia ser pior, mas não preocupa enquanto o governo buscar o equilíbrio entre inflação e crescimento.

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