bati por engano com o 19 de julho e a informação de que é o Dia
Nacional do Futebol, como se aqui os outros dias do ano também não
fossem do futebol. O legislador que o instituiu devia estar pensando
em criar um feriado ou, unindo a diversão aos negócios, obter verbas e
cargos para uma Comissão dos Festejos do Dia Nacional do Futebol,
participar com a família de viagens de trabalho à sede da Fifa na
Europa, manter talvez algumas ONGs e diversas bocas-livres à custa do
erário e, enfim, perseguir os objetivos com que se costuma legislar
entre nós. A experiência induz a crer que alguém pegou, pega e pegará
alguma grana com o Dia Nacional do Futebol, é isso mesmo, faz parte da
nossa afamada realidade. Não é hoje, é daqui a um mês, mas não pude
resistir ao comentário, que não vou poder fazer no dia exato.
E logo passando ao assunto que já tinha escolhido, lembro que nunca
abordei aqui os efeitos da criação do Ministério da Pesca no cotidiano
de Itaparica. Falha minha, pois a pesca é sempre do interesse de quem
vive cercado pelo mar. O efeito principal foi muito bonito, segundo me
contam. Afazeres outros me impediram de acompanhar os acontecimentos,
mas dizem que os itaparicanos e seus vizinhos de Recôncavo mais uma
vez mostraram como sabem prestigiar e apoiar as iniciativas do
governo, quando estas visam a melhorar as condições de vida da sofrida
população local.
Talvez eu erre algum detalhe e com certeza errarei nos números, mas
não nos fatos básicos. Dizem que o Ministério da Pesca criou um
subsídio para os pescadores profissionais, a fim de prover o sustento
deles, nos meses em que a pescaria de certas espécies fica proibida. O
sucesso foi estrondoso e, dentro em pouco, havia, segundo me contaram,
mais de setenta mil pescadores de carteirinha na ilha e redondezas,
recebendo uns trocados do governo. Deve ser exagero de quem me falou,
mas circulam rumores de que várias famílias registraram até meninos
ainda na barriga da mãe, porque, no mês em que nascessem, ia ter
proibição de pesca e assim ele já nascia pescador e coberto pela lei.
Comentam também que Iô Rufino, que não enxerga nada há uns 30 anos,
nunca pescou, não gosta de peixe e diz o povo que já inteirou 112
anos, recebe o dinheirinho dele. Ou recebia, porque parece que algum
intrometido achou que tinha pescador demais nessa história e agora o
ministério está revendo os subsídios e a grana secou. Não houve
revolta, houve apenas a confirmação de que o que é bom dura pouco e
pobre é assim mesmo: quando está levando uma vantagenzinha, vem um
desinfeliz lá de cima e tira tudo.
Talvez tenha sido por isso que a recente mudança de titular no
Ministério da Pesca não tenha chamado muito a atenção no bar de
Espanha. Aliás, ninguém sabia ainda do fato, até que Zecamunista
apareceu com um jornal e contou as novidades. O ministro das Relações
Institucionais agora era o ministro da Pesca e a ministra da Pesca
agora era a ministra das Relações Institucionais. Indagado sobre se
relações institucionais era o nome de algum peixe federal, Zeca
respondeu que até não duvidava, mas não havia pesca nenhuma envolvida
na história.
- Não é uma questão de pesca, é uma questão de ministério - explicou
ele. - Primeiro vem a colocação, depois a função, o importante é a
colocação.
- Mas o ministro não tem de entender do ministério dele?
- Absolutamente. Quer dizer, logo de primeira, não. Eu já soube que o
primeiro serviço desse novo ministro da Pesca vai ser uma turnê pelos
grandes aquários do mundo, para ele ver pessoalmente os peixes. E, se
fosse outro, faria a mesma coisa. Eu já tentei explicar isso a vocês e
vocês não entendem. Nesse governo, todo mundo brinca nas 11. O negócio
não é ser atacante ou goleiro, o negócio é estar em campo. Em que
posição não interessa, isso é coisa de quem acredita na imprensa
burguesa. O que interessa é o quanto, é assim que a política funciona
aqui. Tanto assim que quase nenhum dos ministros entende nada da área
do ministério dele, isso não tem nada a ver, é uma questão de
democracia. Eles são muito democratas uns com os outros. Um bocadinho
para você aqui, um bocadinho para você aí, mais este pedacinho para
você, mais este outro pedacinho para você. Aliás, é nisso que a
ministra das Relações Institucionais vai trabalhar, ela vai ficar
fazendo o rodízio dos pedacinhos, uma espécie de rodízio de pizza. Vai
sempre tendo um giro, a depender da situação, e sempre se pode criar
um ministério novo para criar novos cargos. Mais um ministério, menos
um, ninguém repara. Dá para todo mundo.
- Dá para todo mundo, não, para o pescador não dá nada. Agora mesmo
tiraram aquela merrequinha que vinha uma vez ou outra, está todo mundo
na saudade. Entra governo, sai governo, é a mesma coisa. E Lula, que é
que está fazendo, uma hora destas?
- Nem me pergunte, que eu não quero saber.
- Mas você não disse que ele continua presidente?
- É, mas é modo de dizer. Não existe um cargo para ele.
- O cargo de rei está ocupado?
- O cargo de rei? Bem, não, o cargo de rei...
- Então a solução está aí. Lula de rei! E aí ele manda pagar, mandar
pagar é com ele mesmo. Pronto aí, dá para todo mundo tirar sua
lasquinha! Lula rei, no comando dessa turma toda! Por que você fez
essa cara apavorada, está achando que é maluquice minha?
- Não, pelo contrário, pelo contrário.