A sucessão de ataques a diversos sites de informações oficiais
desvendaram nossas vulnerabilidades e tem um sentido simbólico que não
está nas cogitações dos hackers, mas não pode ser ignorado por suas
vítimas – nós.
Quando falamos em sistemas somos imediatamente remetidos ao campo da
informática e das novas tecnologias de informação, mas o que parece
extremamente frágil é o nosso sistema de gerenciamento político. A
mais contundente prova da sua precariedade foi o desmoronamento do
núcleo palaciano com a defenestração do ministro-chefe da Casa Civil
Antonio Palocci.
Custa crer que experientes operadores políticos como os que prepararam
a candidatura e triunfo de Dilma Roussef tivessem esquecido de montar
algo tão comezinho e tão crucial como um esquema alternativo,
vulgarmente chamado de Plano B. Qualquer jogador de xadrez sabe que
não adianta conhecer o movimento das pedras, o xeque-mate no
adversário só é possível quando se dispõe de mais de uma opção para
chegar ao lance inapelável.
Sem reservas ou sobressalentes é temerário embarcar em qualquer
missão, mesmo aquela com êxito garantido. Palocci era uma peça-chave
não apenas como coordenador da ação macroeconômica, sua missão
situava-se em esfera mais sutil, química: plasmar-se como complemento
à personalidade e atributos da presidente da República.
Nessa condição (erroneamente designada como articulação política),
deveria montar a co-habitação com os aliados, especialmente o PMDB que
desde a redemocratização e mesmo durante o mandato Sarney, jamais
dispôs de tanta força: além do poder eleitoral, tem a presidência do
Senado (portanto do Legislativo), tem a vice-presidência do Executivo
e nela instalou uma velha raposa política como Michel Temer que há
alguns pares de anos chefiava com pertinácia à ala tucana do partido.
Palocci caiu quando começava a tourear o principal aliado e há
analistas que não descartam uma relação de causalidade no episódio
(embora a razão visível tenha sido uma fundamentada denúncia
jornalística).
Qualquer que tenha sido o motivo da traumática mudança no supremo
escalão do Executivo, a esta altura o que importa é a dura realidade:
mal iniciado, o sistema de gerenciamento político foi traumaticamente
desfeito e substituído por um arranjo improvisado.
Nestas circunstâncias, escapam dos armários todos os fantasmas ao
mesmo tempo. Crises mal-resolvidas têm o péssimo costume de espocar ao
mesmo tempo, assim é que a preparação para hospedagem dos magnos
eventos esportivos mundiais no Brasil evoluiu rapidamente do grau
deficiente para desastroso.
Em 2007 e 2009, quando o presidente Lula deixou-se levar pelo seu lado
torcedor e apostou pesadamente na sua boa estrela, imaginava que a
Copa e as Olimpíadas seriam decisivas nas eleições de 2010 e 2014.
Foram na escolha da sua sucessora, mas têm tudo para atrapalhar em
2014 porque já não se trata apenas de tapar buracos, reunir recursos e
cumprir cronogramas. Inebriado pela garra não se acautelou, não quis
enxergar dificuldades e deficiências. Chutou.
Aos imponderáveis da situação econômica mundial acrescentaram-se agora
os da política interna, acumulados debaixo do tapete. A saída de
Palocci levantou o tapete e escancarou uma incrível rede de
desajustes, imprevisões e uma incontrolável vocação para a improbidade
que coloca as grandes empreitadas nacionais a mercê de hackers de
todas as espécies.