Fazenda e Banco Central parecem até aqui felizes com os efeitos da
política econômica "heterodoxa"
PARA QUEM ainda acha que o governo Dilma Rousseff "se arrependeu" da
política econômica "heterodoxa" que implementava já desde a transição
de governo, em dezembro de 2010, conviria prestar atenção a
declarações recentes das duas autoridades da área, Guido Mantega,
ministro da Fazenda, e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central
(ou de documentos e entrevistas oficiais do pessoal do BC).
Note-se, além do mais, como Mantega e Tombini fazem questão de se
mostrar afinados em público (e não há notícia de que estejam se
bicando nas internas).
1) A ata do Copom da semana passada não evidenciou nenhuma grande ou
nova inquietação do BC, que continuou a dizer que os juros ficariam
altos por um tempo "suficientemente" longo. Isso significa que pode
vir apenas uma alta adicional de 0,25 ponto percentual (interpretação
dos economistas dos maiores bancos do país). E que os juros podem (e
provavelmente vão) ficar altos, por aí, durante 2012;
2) O presidente do BC afirma e reafirma que não considera razoável dar
um pontapé nos juros de modo a levar a inflação à meta no ano-
calendário e talvez nem nos próximos 12 meses. Certo ou errado, o BC
não compartilha, pois, da opinião dos economistas-padrão na praça,
"ortodoxos", para os quais o enfoque "gradualista" apenas aumenta os
custos de colocar a inflação de novo na meta (dada a indexação, na
prática, da economia etc.);
3) O BC parece mesmo achar que a taxa de juros necessária para abater
a inflação é menor do que no passado, mesmo no passado recente. A taxa
real de juros anda apenas agora pela casa de 7%. Na rodada anterior e
sistemática de aumentos de juros (meados de 2008), logo de cara a taxa
real foi para 8,5%. Para falar curto e grosso, se o BC de agora fosse
se pautar pelo comportamento do BC de antanho, a Selic estaria perto
de 14%, não em 12,25%;
4) Mantega saiu ontem de uma reunião com Dilma dizendo que o governo
está "satisfeito" porque "conseguiu estabilizar a economia brasileira
em patamar de [crescimento anual] 4,5%, o que, para nós, é muito bom.
Para um ano de ajustes, é um crescimento excelente". Esse crescimento
de 4,5% é um número que Dilma repete (em público e nas internas) pelo
menos desde uma entrevista ao jornal "Valor", em março. As diretrizes
da sua política econômica não mudaram desde então. Não houve novidades
na área fiscal (gastos públicos) nem na monetária (juros);
5) Mantega não deve ter saído da reunião dizendo tais coisas sem ter
tido aval ou aprovação de Dilma.
Isto posto, o importante para o governo parece ser que a inflação não
estoure a meta (passe de 6,5% ao final do ano), que o crescimento
fique em torno de 4,5%, que a restrição ao crédito incida mais sobre o
consumo do que sobre o investimento. Não há meta fiscal de médio prazo
(um plano de redução de deficit e dívida de uns cinco anos), ideia que
Dilma chegou a lançar durante a campanha. Nem há planos de reduzir a
meta de inflação (no médio ou longo prazo), que o CMN deve deixar na
mesma na semana que vem.
Goste-se ou não, certo ou errado, coerente ou não, de fôlego curto ou
não, essas são as balizas que a presidente parece ter na cabeça e é
isso que ela parece esperar da política de seus economistas.