No curto prazo, parecem funcionar as medidas do governo com objetivo
de conter excessos externos
DURANTE O grande dilúvio de dólares no Brasil, de janeiro até mais ou
menos o início de abril, o governo parecia se comportar um tanto como
um personagem de desenho animado procurando tapar os sucessivos
buracos que aparecem num dique. Começa a cobri-lo com um dedo.
Esgotadas as mãos, tapa um buraco com um pé e, enfim, enfia o nariz a
fim de evitar que a água passe pela barragem.
O "nariz" foi a entrada em vigor da última rodada do aumento do
imposto sobre a entrada de capital estrangeiro, em abril, embora a
tendência de queda do fluxo fosse visível desde o fim de março.
De meados de abril para cá, o saldo das entradas e saídas de dólares
pelo canal "financeiro" é uma ladeira; está no vermelho desde o fim de
maio (na média móvel de 21 dias úteis, algo próximo de um mês).
O tombo da entrada de dólares foi atenuado pela alta das entradas
líquidas de dinheiro pelo canal "comercial" (exportações menos
importações), elevação significativa e também visível desde meados de
abril. Mas, em meados de maio, o saldo total, somados os fluxos pelos
segmentos financeiro e comercial, entrou em declínio e está no
vermelho quase desde o início do mês.
O ritmo de aumento de elevação das reservas internacionais (dólares
"sobrantes" comprados pelo Banco Central) também, claro, declinou,
como costuma acontecer, acompanhando mais ou menos o movimento do
fluxo de câmbio.
Trata-se de um pequeno alívio, pois comprar e manter reservas custa
caro, como se sabe. O governo faz dívida para comprar os dólares. A
dívida custa o preço dos juros brasileiros (mais de 12%), enquanto as
reservas rendem o equivalente à das taxas de juros no mundo rico
(quase zero), grosso modo.
Um objetivo declarado do governo com os controles de capital era
impedir o endividamento excessivo em dólares do setor privado,
responsável por quase 90% do aumento da dívida externa bruta do país
desde 2006. Parece que esse movimento foi pelo menos atenuado. Por
fim, parece por ora que se conteve o jorro de liquidez pelo canal
externo, de dinheiro demais, que ajudava a expandir ainda mais o
crédito, expansão indesejada num momento de alta da inflação.
Desde o final de abril, o dólar ficou mais ou menos estável, flutuando
em torno de R$ 1,60. Foi o efeito de reservas mais taxação do capital
externo? A ver. Note-se, porém, que a taxa de câmbio efetiva real está
mais ou menos na mesma desde janeiro (trata-se de uma medida de taxa
de câmbio que considera a inflação e é ponderada pelo valor das moedas
de países com os quais o Brasil comercia).
Considere, porém, que este foi um mês em que ferveu a crise grega (com
alguma pequena aversão a ativos de risco, como os do Brasil). Em que
havia um tico de incerteza sobre o que seria da política monetária dos
EUA (se o Fed continuaria a despejar dólares. Não vai, mas não
enxugará o excesso tão cedo).
Logo, não é possível dizer que apenas as medidas do governo ajudaram a
barrar o dilúvio de dólares. Mas é difícil dizer que as medidas da
equipe econômica não funcionaram. Trata-se, em muitos casos, de
remendos, de remédios para tratar febres, sintomas, não os problemas
subjacentes da economia. No curtíssimo prazo, parece ter dado certo.