Folha de S Paulo
É DIFÍCIL encontrar economista ou financista informado, inteligente, sensato e de boa-fé que acredite em outra saída para a Grécia que não seja um calote organizado, uma redução bem pensada da dívida do governo grego, que equivalente hoje a pouco mais de 150% do PIB.
O calote ainda provocaria dor na Grécia, mas seria uma solução, não a agonia de agora, que continuará.
Mas a gente ouvia e lia ontem, em TVs e em on-lines e assemelhados, que "os mercados estavam aliviados e as Bolsas subiam" devido à "esperança" de que o governo grego não fosse derreter ontem, ainda.
O governo dos socialistas poderia receber um "voto de confiança" para escrever um plano novo de arrocho e, assim, receber uns trocados que evitariam o calote desorganizado já agora em julho ou em agosto. Note-se que os socialistas são apenas uns estatistas amigos do clientelismo; a oposição não é melhor.
Suponha-se que os manifestantes de rua não ponham fogo no governo ou que os socialistas não se queimem de outro modo. De onde veio tanta "esperança"? Ocorre apenas que o dinheiro grosso e seus agentes viram a perspectiva de voltar a fazer seus negócios de curtíssimo prazo. Se a Grécia não quebra agora, é "business as usual".
A Grécia continua no mesmo buraco. Daqui a pelo menos três anos o seu ainda PIB será menor do que o de agora (na perspectiva mais otimista). Sua dívida vai continuar a crescer (mesmo que o deficit do governo caia dos atuais 9%, 10%, ainda crescerá). Logo, o tamanho relativo da dívida terá crescido.
Se o país não consegue se financiar no mercado agora, dados os juros extorsivos, vai consegui-lo em 2014? A economia grega dificilmente será mais "produtiva". No máximo, estará mais barata, algo mais "competitiva", pois haverá duro arrocho de salários e grande desemprego: redução de renda e consumo.
O país sobrevive com dinheiro do FMI, de um fundo europeu de financiamento de países em pré-calote (EFSF) e, no dia a dia, na prática, de empréstimos indiretos do Banco Central Europeu.
A União Europeia (via EFSF) lança títulos de dívida que o mercado aceita de bom grado, pois garantida por Alemanha, França e cia. O dinheiro tapa temporariamente o rombo grego, que só aumenta (os 110 bilhões de maio passado não vão bastar, por isso a crise de agora). Em suma, dinheiro público, de impostos, garante o pagamento dos credores privados da Grécia.
De resto, esse dinheiro serve como seguro contra a degradação da dívida de outros países europeus. Se essa dívida perde valor, os bancos europeus, pouco capitalizados, vão ter problemas. Os objetivos da elite europeia e da banca parecem ser:
1) Evitar o calote, que degradaria a dívida de Portugal, Irlanda, Bélgica, Espanha e Itália, o que causaria problemas imediatos para a banca europeia e, talvez, até para fundos americanos que compram títulos de bancos europeus;
2) Evitar, assim, o descrédito (político e financeiro) do euro e do projeto europeu;
3) Empurrar a crise com a barriga até que os demais países ainda não tão quebrados da Europa reduzam suas dívidas a ponto de um calote grego ser menos danoso -essa é a aposta, quase lance de fé.
A crise pode desaparecer de vista, mas vai estar debaixo do tapete.
O calote ainda provocaria dor na Grécia, mas seria uma solução, não a agonia de agora, que continuará.
Mas a gente ouvia e lia ontem, em TVs e em on-lines e assemelhados, que "os mercados estavam aliviados e as Bolsas subiam" devido à "esperança" de que o governo grego não fosse derreter ontem, ainda.
O governo dos socialistas poderia receber um "voto de confiança" para escrever um plano novo de arrocho e, assim, receber uns trocados que evitariam o calote desorganizado já agora em julho ou em agosto. Note-se que os socialistas são apenas uns estatistas amigos do clientelismo; a oposição não é melhor.
Suponha-se que os manifestantes de rua não ponham fogo no governo ou que os socialistas não se queimem de outro modo. De onde veio tanta "esperança"? Ocorre apenas que o dinheiro grosso e seus agentes viram a perspectiva de voltar a fazer seus negócios de curtíssimo prazo. Se a Grécia não quebra agora, é "business as usual".
A Grécia continua no mesmo buraco. Daqui a pelo menos três anos o seu ainda PIB será menor do que o de agora (na perspectiva mais otimista). Sua dívida vai continuar a crescer (mesmo que o deficit do governo caia dos atuais 9%, 10%, ainda crescerá). Logo, o tamanho relativo da dívida terá crescido.
Se o país não consegue se financiar no mercado agora, dados os juros extorsivos, vai consegui-lo em 2014? A economia grega dificilmente será mais "produtiva". No máximo, estará mais barata, algo mais "competitiva", pois haverá duro arrocho de salários e grande desemprego: redução de renda e consumo.
O país sobrevive com dinheiro do FMI, de um fundo europeu de financiamento de países em pré-calote (EFSF) e, no dia a dia, na prática, de empréstimos indiretos do Banco Central Europeu.
A União Europeia (via EFSF) lança títulos de dívida que o mercado aceita de bom grado, pois garantida por Alemanha, França e cia. O dinheiro tapa temporariamente o rombo grego, que só aumenta (os 110 bilhões de maio passado não vão bastar, por isso a crise de agora). Em suma, dinheiro público, de impostos, garante o pagamento dos credores privados da Grécia.
De resto, esse dinheiro serve como seguro contra a degradação da dívida de outros países europeus. Se essa dívida perde valor, os bancos europeus, pouco capitalizados, vão ter problemas. Os objetivos da elite europeia e da banca parecem ser:
1) Evitar o calote, que degradaria a dívida de Portugal, Irlanda, Bélgica, Espanha e Itália, o que causaria problemas imediatos para a banca europeia e, talvez, até para fundos americanos que compram títulos de bancos europeus;
2) Evitar, assim, o descrédito (político e financeiro) do euro e do projeto europeu;
3) Empurrar a crise com a barriga até que os demais países ainda não tão quebrados da Europa reduzam suas dívidas a ponto de um calote grego ser menos danoso -essa é a aposta, quase lance de fé.
A crise pode desaparecer de vista, mas vai estar debaixo do tapete.