Os conceitos tradicionais de guerra e da forma de combate, como
entendidos até aqui, estão sendo dramaticamente modificados pelo
rápido avanço tecnológico.
Peter W. Singer, no livro Wired for War (Preparado para Guerra), trata
da robótica militar e mostra como isso afetará as táticas e
estratégias das forças armadas. Os ataques cibernéticos ocorridos nos
últimos meses, por outro lado, fizeram acender a luz vermelha nas
instituições de segurança de todos os países.
Os veículos aéreos não tripulados (Vants), de tamanho cada vez mais
reduzido, estão transformando a maneira como os EUA pensam sobre a
guerra e como se engajam nela. Os EUA empregaram os Vants no
Afeganistão, no Paquistão para vigiar Bin Laden e agora na Líbia.
Israel utiliza os Vants na luta contra a liderança militar palestina.
O Pentágono dispõe hoje de cerca de 7 mil Vants e solicitou ao
Congresso US$ 5 bilhões para o desenvolvimento de novos veículos não
tripulados do tamanho de aves e insetos, como as spy flies (moscas
espiãs), equipadas com sensores e microcâmeras para detectar inimigos,
armas nucleares ou vítimas de desastres naturais. Os Vants são
utilizados como arma de ataque, mas também como instrumento de
vigilância antecipada contra eventuais ataques ou de proteção das
fronteiras, sem nenhum risco para as forças aéreas ou terrestres.
O Brasil ainda engatinha nessa área e apenas recentemente adquiriu
alguns Vants para monitorar a porosa fronteira amazônica, tão
vulnerável à ação do crime organizado do tráfico de drogas e de armas,
e a Embraer começou a produzir esses veículos, com radares
ultrassofisticados.
As invasões cibernéticas estão acarretando profundas transformações
numa nova forma de guerra, a virtual.
Os EUA, segundo diretrizes do Pentágono que serão divulgadas
proximamente, passarão a considerar ataques cibernéticos como atos de
guerra, sujeitos, portanto, a retaliações. Além de intensificar a
segurança dos sistemas internos de defesa, as medidas incluirão desde
sanções econômicas, passando por retaliações cibernéticas e até mesmo
ofensivas militares. De acordo com porta-voz do Pentágono, todas as
opções estão em aberto, o que denota a seriedade com que o assunto
está sendo tratado. A Casa Branca informou que "responderá a atos no
espaço cibernético da mesma forma que responderia a qualquer outro
tipo de ameaça ao país". O governo norte-americano afirmou que se
reserva o direito de usar todos os meios diplomáticos, econômicos e
militares para defender a nação, seus aliados e seus interesses. O
governo dos EUA tem por que se preocupar. Basta lembrar que, só nos
últimos meses, órgãos oficiais como o Departamento de Comércio, a CIA,
o Senado, a rede de TV pública PBS e a empresa Lockheed Martins, que
trabalha muito próxima do Pentágono no desenvolvimento de equipamentos
militares sensíveis, foram afetados pela ação dos hackers.
Há uma proliferação de invasões em todo o mundo, não limitadas apenas
aos governos ou organizações internacionais, como o FMI. Foram
atingidos empresas que armazenam dados financeiros ou lidam com
informações confidenciais de Estado, companhias como a RSA, unidade de
segurança da EMC Corporation, dois bancos e uma administradora de
cartões de crédito da Coreia do Sul. Um dos grupos de hackers começou
a atacar organizações (Visa e Mastercard) e pessoas contrárias ao site
e ao fundador do WikiLeaks. Ocorreram ataques com o objetivo de
revelar ao público informações sobre atos de corrupção e tentativas de
limitar a liberdade na internet.
Há suspeitas de que também países - como a China, os EUA e Israel -
estejam realizando ataques de espionagem cibernética. O programa
nuclear do Irã foi infectado por vírus, introduzido nos computadores
oficiais por outro país. Consta que a Rússia e a Coreia do Norte
possam ter-se utilizado dos serviços de hackers.
Um relatório da Otan concluiu não ser possível descartar a hipótese de
que esses grupos de hackers passem a vender seus serviços a
terroristas e ao crime organizado. Por outro lado, trabalho da OCDE
minimiza a questão e observa que a possibilidade de um conflito
cibernético é reduzida. As motivações políticas poderiam, assim,
evoluir para chantagem, ganhos financeiros ou terrorismo.
Nos últimos dias o Brasil entrou na mira dos hackers. A Presidência da
República, a Prefeitura de São Paulo, o Ministério do Esporte, o IBGE,
a Secretaria da Receita Federal e outros órgãos foram atacados e,
segundo foi noticiado, dados foram retirados desses sites. Pesquisa do
Tribunal de Contas da União revela que 64% dos órgãos federais não
dispõem de uma política de segurança da informação.
Suponho que o governo brasileiro esteja preocupado com vazamentos de
documentos sigilosos e de detalhes técnicos, em especial os relativos
ao Programa Nuclear Brasileiro, e ataques a usinas de geração de
energia e redes de distribuição.
O governo brasileiro informou ter começado a pôr em prática medidas
para proteger o País de ataques cibernéticos. Os ataques que visam ao
roubo de informações estratégicas representam apenas 1% das ameaças,
sendo registradas 2.100 tentativas de invasão por hora. A questão
cibernética, ao lado da nuclear e da espacial, é prioridade incluída
na Estratégia Nacional de Defesa. Em dezembro, o Gabinete de Segurança
Institucional lançou o Livro Verde, que estabelece parâmetros de
proteção das redes governamentais.
Dadas a magnitude do desafio e a vulnerabilidade do Brasil a essa nova
forma de guerra, espera-se muito mais das autoridades, como medidas
sofisticadas de defesa e punitivas para os responsáveis pelos ataques.
O tema é de alta prioridade e urgência, por afetar a segurança nacional.
EDITOR RESPONSÁVEL DA REVISTA "INTERESSE NACIONAL"