FOLHA DE S. PAULO - 12/06/11
BRASÍLIA - Até outro dia, Lula alardeava todo serelepe que o PT ficaria 20 anos no poder. Dilma vivia a lua de mel com a opinião pública, a oposição estava abatida e a reeleição em 2014 era favas contadas.
Pois, já no primeiro semestre, Dilma perdeu o homem forte do governo e fez a aposta arriscada por um triunvirato feminino à revelia do PT e do PMDB. A dúvida é quando começa o "Volta Lula!". E com a oposição saindo da ressaca.
"O governo é o nosso maior aliado, pelos erros e contradições", me disse o tucano Aécio Neves, com um sorriso maroto, de quem conhece o jogo. Brasília é para profissionais, não para amadores. Quanto mais o governo se lasca, mais a oposição se dá bem.
Segundo ele, que hoje domina o tabuleiro e as peças do PSDB, governos têm quatro fases iniciais:
1) grande expectativa, com a opinião pública a favor e os aliados esfregando as mãos pelos cargos;
2) ansiedade, quando as expectativas não se confirmam e muitos se sentem subestimados;
3) frustração, depois que o encanto acabou e os interesses contrariados falam mais alto;
4) e, enfim, a fase da retaliação.
Na opinião de Aécio, Dilma chegou à fase da retaliação muito antes do que se poderia prever. A estrondosa maioria no Congresso se transformou num pesadelo, com o PT brigando loucamente por espaço e o PMDB armando o bote.
Dilma resolveu enfrentar os gulosos petistas, sobretudo os de São Paulo, e os profissionais peemedebistas, que têm como bunker o Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer. Para isso, montou um núcleo de governo com mulheres coadjuvantes no Senado e que não conhecem a Câmara. Até como mulher, torço para ser um sucesso. Mas tenho cá minhas dúvidas.
Os profissionais do Congresso retaliam; as amadoras do Planalto pegam em armas para reagir. O risco é ficarem sitiadas em sua fortaleza, à espera do cavaleiro Lula.