Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 16, 2006

VEJA Entrevista: Álvaro de Miranda Neto


De luxo, só cavalos

Casado com Athina Onassis, o cavaleiro
Doda Miranda mora em casa alugada
na Bélgica e diz que a mulher só aceita
pagar o preço justo


Sandra Brasil

Robeto Setton

"A Athina não é de gastar muito. Ela me conquistou da mesma maneira que eu a conquistei, com simplicidade"

Só pelo nome, Álvaro Affonso de Miranda Neto, e pela atividade esportiva – o caro hipismo – já se vê que Doda, como é conhecido, está no topo da elite brasileira. Pois, quando começou a namorar sua atual mulher, Doda passou pelo dissabor de ser considerado um arrivista, interessado em dar o golpe do baú. Cruel, porém compreensível, considerando-se que a mulher é a jovem Athina, a única e multimilionária herdeira da mitológica família Onassis, de armadores gregos. O ar feliz de Athina indica que ela pode quebrar a sucessão de tragédias que marcou os Onassis, sendo a mais devastadora a morte de sua mãe, Christina, por overdose de remédios, quando ela tinha apenas 3 anos. Unidos pela paixão pelos cavalos, Doda, 33, e Athina, 21, moram na Bélgica, mas vivem fazendo temporadas em São Paulo. Em 2007, trarão para a cidade uma das etapas de uma competição internacional de hipismo. Também montaram equipe própria, a A&D – inteiramente financiada por patrocínios, que eles mesmos se encarregaram de buscar. Doda conta aqui pela primeira vez como é ser casado com a herdeira Onassis.

Veja – Como começou sua aproximação com Athina? De quem partiu a iniciativa?
Miranda – Dela. Nós dois treinávamos no haras do Nelson Pessoa, na Bélgica, e já tínhamos nos visto de longe. Num dia em que eu estava muito deprimido, com saudade da minha filha, que tinha vindo para o Brasil, tive uma crise de choro na sala de selas. A Athina entrou, puxou conversa, quis saber o que estava acontecendo e eu contei. Trocamos telefones. Passamos a nos falar com freqüência e, quando percebi, estávamos namorando.

Veja – Antes do namoro, o senhor era um atleta de destaque no hipismo. Depois, a condição de namorado de Athina passou para primeiro plano. Como se sentiu ao ser acusado de dar o golpe do baú?
Miranda – No começo foi duro ler o que saía na imprensa a meu respeito. As pessoas ligavam nosso envolvimento diretamente a dinheiro e interesse financeiro. De qualquer pessoa que se aproxime da Athina, mesmo por amizade, vão dizer que está interessada no dinheiro dela. Logo depois das Olimpíadas, a gente abria o jornal e lia: "Doda ajudou o Brasil a conquistar uma medalha". Depois, de repente, passei a ser perseguido, e minha conduta moral, questionada. O lado profissional foi esquecido. Como atleta, não fiquei abalado, mas pessoalmente, sim. Ficava preocupado, procurava saber se os conhecidos estavam acreditando no que saía nos jornais. Mas depois resolvi deixar o tempo passar. Não adiantaria responder. Deixei passar, e passou. Não vi mais nada disso nos últimos dois, três anos. Quando nós começamos, sabíamos que a notícia do namoro seria uma bomba. Tínhamos consciência de que precisávamos ser fortes, para que o mundo exterior não interferisse em nossa vida como casal.

Veja – O que fizeram para enfrentar a pressão?
Miranda – O fundamental é a comunicação e o amor sincero. Além disso, tomamos o cuidado de não nos precipitar. Só nos casamos depois de três anos juntos. Também resolvemos aproveitar a exposição que tínhamos na mídia para chamar atenção para o hipismo, a nossa paixão. Claro que a indústria da fofoca existe. Eu mesmo compro revistas e leio sobre os outros, mas não gosto que falem da gente.

Veja – Quem sugeriu o acordo pré-nupcial com separação de bens que vocês assinaram?
Miranda – Foi uma das primeiras coisas que decidimos antes de casar. Eu propus e a Athina aceitou. Ela é a herdeira. Sou só o marido dela. Se tivermos um filho, ele será herdeiro, mas eu não tenho nada a ver com a fortuna da família Onassis. Era fundamental ter esta postura desde o começo: o que é meu é meu, o que é seu é seu, mesmo que o dela seja milhões de vezes acima do meu. Fui educado assim. Tudo o que eu faço hoje já fazia antes. Sempre tive apoio do meu pai, que é um empresário bem-sucedido, e de patrocinadores. Sempre freqüentei os melhores lugares, sempre tive bons cavalos. A maioria das medalhas que conquistei foi anterior ao meu relacionamento com a Athina. Sempre tive tranqüilidade financeira. Acho ridículo casamento com comunhão de bens.

Veja – O pai de Athina, Thierry Roussel, não foi ao casamento. Ele o desaprova?
Miranda –
Eu não tenho muito contato. Ele é ocupado e viaja bastante. Mas ela vê mais o pai dela do que eu vejo o meu. Essa história de que eu teria problemas com a família é um exagero.

Veja – A etapa brasileira do campeonato internacional de hipismo que o senhor está organizando para 2007 vai se chamar Athina Onassis International Horse Show. O nome é só homenagem ou ela financiará a prova?
Miranda – O vencedor do torneio vai receber 1 milhão de dólares, a maior premiação do mundo no momento. Só assim foi possível incluir o Brasil no Global Champions Tour, circuito criado em 2006 que começa em março, em Palm Beach, nos Estados Unidos, e termina em outubro em Atenas, na Grécia. Mas todo o capital, tanto de organização quanto do prêmio em si, vem de patrocínios. Não há um tostão nem dela nem meu. Em apenas três meses já conseguimos 50% do orçamento de 6 milhões de reais. A Athina só fez a boa ação de emprestar o nome dela, que sempre ajuda a atrair atenções. Para retribuir, decidimos pôr no troféu o nome do avô dela Aristóteles Onassis, que faria 100 anos em 2006.

Veja – O mesmo sistema de patrocínios vai sustentar a equipe de hipismo que vocês montaram?
Miranda –
Exatamente. Já começamos a fazer os contatos. Tive de abrir mão dos meus antigos patrocinadores no ano passado, porque não estava num bom momento no esporte. Mas desde então eu e Athina investimos 10 milhões de euros – aí, sim, foi dinheiro nosso – na compra de cavalos excelentes, que já estão sendo treinados para competição. Agora tenho cavalos para brigar de igual para igual com qualquer cavaleiro do mundo.

Veja – Seu projeto de passar a competir pela Grécia, e não mais pelo Brasil, foi engavetado?
Miranda – Na verdade, nunca foi um projeto. Logo depois do meu casamento, estive na Grécia para tirar o passaporte grego. Após a assinatura dos papéis, dei uma entrevista e me perguntaram por que não passava a representar a Grécia nas competições. Fiquei sem saída. Não podia dizer que não queria. Respondi que talvez, no futuro. Disse que seria um sonho ter a Athina competindo ao meu lado numa Olimpíada e que, se o Brasil não precisasse mais de mim, seria uma possibilidade. Falei ainda que nada impediria que, se a Athina tivesse passaporte brasileiro, ela passasse a competir pelo Brasil. Amo a Grécia. Sou muito bem recebido lá e admiro o carinho que o povo grego tem pela minha mulher. As pessoas nos param na rua para tirar foto. Pedem a mim que cuide bem da Athina, dizem que a amam, demonstram preocupação com a felicidade dela. Fiz o que pude para ajudar a Athina a resgatar sua origem. Antes de ficarmos juntos, ela não ia à Grécia havia muito tempo; só no ano passado, nós fomos quatro vezes. O povo grego está ligando a volta dela ao país ao nosso relacionamento. Imagino que isso explique o carinho que demonstram por mim.

Veja – Ela tem passaporte brasileiro?
Miranda –
Não. Para ter cidadania brasileira, precisaria abrir mão das nacionalidades francesa e grega. O brasileiro pode ter cidadania de outro país, mas o contrário não é possível.

Veja – É difícil viver cercado de segurança em qualquer lugar do mundo?
Miranda –
Antes de conhecer a Athina, quando eu vinha ao Brasil meu pai contratava dois seguranças para andar comigo, e a gente sempre teve carro blindado, porque qualquer pessoa em São Paulo corre o risco de ser vítima de um seqüestro-relâmpago. Com a Athina, isso tomou uma dimensão infinitamente maior. Hoje, contamos com uns 25 seguranças permanentemente, sem falar nos outros que as pessoas nem percebem que estão sempre com a gente. Há uma preocupação muito grande com os caminhos por onde vamos passar e com os lugares que freqüentamos. Os melhores profissionais são discretos, mas não é uma coisa natural, muito menos agradável. Tenho vontade de levar a Athina para conhecer o Norte e o Nordeste do Brasil, mas, quando imagino que não vamos poder ficar numa praia, à vontade, desisto. Tem esse lado ruim, mas precisamos preservar nossa integridade física. É assim que as coisas são.

Veja – A Athina parece ter se adaptado bem ao Brasil. A que o senhor atribui isso?
Miranda –
Ela me ama muito, com certeza, e sou brasileiro. Aqui, ela se sente em casa com a minha família e nossos amigos. Ela gosta do povo alegre e da comida. Eu e a Athina poderíamos nos casar em qualquer lugar do mundo. Por que escolhi São Paulo para a cerimônia? Não foi só por minha família ser daqui. A gente poderia colocar a família e os amigos em um avião e levá-los para qualquer outro lugar. Trago a Athina para o Brasil para que ela veja como eu amo o meu país.

Veja – Quando o namoro começou, Athina tinha 17 anos e o senhor, 29. Ela se comportava como adolescente?
Miranda –
De jeito nenhum. Ela é muito madura. Até pela história da sua família, por ter perdido a mãe ainda criança, teve de amadurecer mais cedo. E carrega um peso grande, pois há uma preocupação com a seqüência que tem de ser dada à família Onassis. Mas a Athina é muito inteligente. E sabe negociar. Puxou isso do avô.

Veja – Em que situações ela põe em prática sua habilidade de negociadora?
Miranda –
Dificilmente alguém consegue empurrar algo por um preço que ela não acha justo. As pessoas costumam subir o preço quando vêem que a compradora é ela. Isso acontece sempre. A gente inclusive toma o cuidado de mandar outras pessoas para negociar, antes de o nosso nome aparecer. Porque, quando aparece, muitos aumentam o preço e não aceitam negociar. Não abaixam de jeito nenhum. O que acho legal nela é que não paga. Se achar que o negócio está acima do valor do mercado, sofre, mas não compra. Várias vezes presenciei situações desse tipo. Aconteceu recentemente, quando estávamos comprando os cavalos. Sabíamos, por exemplo, que um cavalo pelo qual pediam 200 000 euros chegaria a um preço final 10% menor. Quando a Athina apareceu para ver o animal, o preço não abaixou. Fomos embora.

Veja – A compra do apartamento de vocês em São Paulo também foi negociada?
Miranda – Foi. Primeiro nos informamos do preço, uns 16 milhões de reais. Aí, meu pai, que não era conhecido, negociou a margem de desconto. Só fomos ver o imóvel quando já sabíamos que o preço poderia baixar, não lembro exatamente, acho que para 14 milhões. Quando aparecemos para assinar a papelada, os vendedores levaram um susto. Uma brincadeira nossa é, no restaurante ou no supermercado, tentar calcular quanto vai ser a conta. Ela sempre chega mais perto. Outra coisa: nunca vi a Athina comprar jóia, só bijuteria. De caro, ela investe em coisas que nos trazem felicidade, como cavalos.

Veja – A fortuna de Athina é administrada por uma firma em Londres. Ela dá palpite? Pede a sua opinião?
Miranda –
Ela tem uma equipe de primeira, mas a palavra final é sempre dela. Eu prefiro não participar. Sempre fiquei de fora, porque acho que é coisa dela, grande demais para mim.

Veja – Ela tem planos de assumir o comando da Fundação Onassis?
Miranda –
Não. Ela não tem interesse nesse cargo. As pessoas que estão lá na Grécia cuidam bem da fundação, que é uma entidade sem fins lucrativos. Ela não pode estar tão presente quanto as pessoas que administram a entidade atualmente.

Veja – Que lugar vocês consideram como sua casa? Como é sua rotina?
Miranda –
Nossa casa fica perto de Bruxelas, na Bélgica. Moramos em uma casa alugada, de 350 metros quadrados. Acordo cedo e levo a minha filha (Viviane, 6 anos, de um relacionamento anterior) para a escola todos os dias, às 7h30 da manhã. Começo a treinar às 8 e monto, em média, seis cavalos por dia, durante sete horas. O Pedro Costa, segundo cavaleiro da equipe, e a Athina me ajudam com os outros cavalos. Quando não tem competição, tiramos o domingo de folga.

Veja – Como escolher um presente, de Natal, por exemplo, para uma pessoa como a sua mulher?
Miranda
– É complicado dar presente à Athina. Valem mais o gesto e a surpresa do que o objeto. Ela é muito simples, fica feliz com uma flor, um beijo. Nunca dei nada de muito valor. Mas vou precisar colocar algo simbólico na árvore.

Veja – E ela? Que presentes costuma dar?
Miranda –
A Athina não é de gastar muito. Ela me conquistou da mesma maneira que eu a conquistei, com simplicidade. Uma vez, na Bélgica, eu ia voltar mais tarde do treino e pedi que me comprasse um pacote de biscoito. Quando cheguei, encontrei o armário da cozinha vazio, com um solitário pacote de biscoito de pé. Todo mundo imagina que, sendo Athina, ia comprar logo o supermercado inteiro. Mas ela tem o pé no chão.

Veja – Como o senhor se imagina no futuro?
Miranda –
Montando, saltando. Dizem que, no nosso esporte, quanto mais cabelo branco, melhor a gente fica. Quero uma família maravilhosa e com saúde. Já tenho a Vivi e quero ter mais dois ou três filhos.

Veja – Já estão tentando?
Miranda – Quero que a Athina aproveite mais o esporte. Ela ainda vai fazer 22 anos. Pretendemos começar a tentar depois das Olimpíadas de 2008. Uma coisa é certa: vai nascer no Brasil.

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