Sinais de tempestade econômica |
O Estado de S. Paulo |
2/12/2006 |
A frase é atribuída a Yogi Berra: "É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro". Na verdade, o comentário faz perfeito sentido para os economistas, que em algumas ocasiões têm dificuldade de fazer previsões sobre o presente. E esta é uma ocasião. Como já se passaram dois terços do quarto trimestre de 2006, você pode pensar que já sabemos como vai o trimestre. No entanto, as análises dos economistas sobre o atual estado da economia dos EUA, para não dizer sobre o futuro, ainda são confusas. E eis a má notícia: esse tipo de confusão sobre o presente é o que costuma acontecer quando a economia está num momento de virada, quando uma expansão econômica está prestes a se transformar numa recessão (e vice-versa). Em momentos de virada, os vários indicadores que normalmente nos dizem para onde sopra o vento econômico apontam com freqüência para direções diferentes. Por isso, tanto os otimistas quanto os pessimistas podem encontrar dados para apoiar sua posição. A última vez em que as coisas haviam ficado tão confusas foi no início de 2001, quando a maioria dos economistas não percebeu que os Estados Unidos caminhavam para a recessão. Se isso soa como um mau agouro, é porque deve soar: o mercado de títulos, que tem um ótimo histórico de previsão de recessões, aponta para uma séria desaceleração econômica no ano que vem. Antes de abordar o que o mercado de títulos nos diz, expliquemos por que a economia pode estar num momento de virada. Entre meados de 2003 e meados de 2006, o crescimento econômico nos Estados Unidos foi alimentado principalmente por um enorme boom habitacional, que criou empregos e permitiu que os consumidores gastassem livremente tomando empréstimos garantidos por seus imóveis valorizados. O boom habitacional agora entrou em colapso. Mas os otimistas e os pessimistas discordam sobre quão ruim será o colapso e sobre quanto dano o declínio habitacional causará à economia como um todo. Entre os otimistas está Alan Greenspan, acusado por alguns, em primeiro lugar, de ter deixado a bolha habitacional sair do controle. Na terça-feira, ele disse a investidores numa conferência que o pior do declínio habitacional já passou, afirmando que "os números das vendas aparentemente se estabilizaram". Contudo, já no dia seguinte o governo divulgou dados desanimadores sobre as vendas de casas novas em outubro e rebaixou suas estimativas para meses anteriores. A maioria, embora não o total, dos outros indicadores econômicos divulgados nesta semana também foi substancialmente mais fraca que o esperado. Os pessimistas sentem-se justificados pelos dados desanimadores. Nouriel Roubini, da Roubini Global Economics, que passou algum tempo prevendo uma recessão induzida pela habitação, agora acredita que a economia já parou: ele prevê crescimento zero para o atual trimestre. Economistas do Deutsche Bank dizem o mesmo. Mas essa ainda é uma posição minoritária. A maioria dos analistas ainda diz que não precisamos nos preocupar. Assim, a quem devemos dar ouvidos? E como evitar acreditar naquilo em que queremos acreditar? Talvez a melhor resposta seja observar o que dizem os mercados financeiros. Não o mercado de ações, que é um indicador notoriamente ruim da direção da economia, e sim o mercado de títulos (Paul Samuelson, economista do MIT premiado com o Nobel, uma vez afirmou, brincando, que o mercado de ações havia previsto nove das últimas cinco recessões). Desde meados deste ano, quando o colapso da habitação tornou-se evidente, as taxas de juros dos títulos a longo prazo vêm caindo drasticamente. Eles agora rendem muito menos que os títulos a curto prazo. O fato de investidores estarem mesmo assim dispostos a comprar esses títulos a longo prazo nos diz que esses investidores esperam a queda das taxas de juros. E isso só acontecerá se a economia enfraquecer, forçando o Federal Reserve (banco central americano) a reduzir as taxas. Assim, os compradores de títulos apostam, na prática, numa futura desaceleração econômica. Quão grave é o declínio que o mercado de títulos prevê? Bastante grave. No momento, modelos estatísticos baseados na relação histórica entre taxas de juros e recessões prevêem, grosso modo, 50% de probabilidade de estarmos prestes a experimentar uma recessão formal. E, como até mesmo uma desaceleração que não se qualifica formalmente como recessão pode levar a um aumento drástico do desemprego, é bem alta a probabilidade - talvez 2 para 1 - de 2007 ser um ano muito duro. Por sorte, estamos em boas mãos para enfrentar a tempestade econômica que se aproxima: a Casa Branca é ocupada por um homem que se mostra ideologicamente flexível, dá ouvidos a uma ampla variedade de opiniões e entende que a política precisa se basear na análise cuidadosa, não no instinto visceral. Opa, esperem aí. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, dezembro 04, 2006
Sinais de tempestade econômica- Paul Krugman
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