Lula fez promessas que não cabem na conta do governo, que já vem espremendo os investimentos produtivos |
A FRASE do presidente Lula -"O Brasil necessita de "mágicos" para crescer"- foi manchete de economia da Folha nesta semana. Certamente Lula busca "mágicos" capazes de repetir o milagre da multiplicação dos pães. Mas o último a fazer esse milagre foi crucificado há mais de 2.000 anos. Em economia há retornos crescentes, efeitos de retroalimentação, sinergias, relação de causa e efeito não-lineares etc., mas não há notícia de existência de "mágicos" capazes de atender à demanda de Lula porque não é necessário e, em última instância, sempre prevalece a verdade dos fatos, como o PIB divulgado pelo IBGE.
Não há "mágica" que faça crescer uma economia com Estado do tamanho que temos, cuja voracidade impõe ao setor produtivo a maior taxa de juros do mundo, em conseqüência uma taxa de câmbio destruidora de empregos, e a carga tributária, relativamente à renda per capita, mais alta do mundo.
Há boas instituições que incentivam e premiam atividades produtivas, desestimulam e punem atividades predatórias que estão na base do processo de desenvolvimento. Há boas políticas econômicas e preços relativos corretos que promovem o investimento e a boa alocação de recursos. Há boa gestão pública que imprime racionalidade e eficiência na utilização de recursos e boa política que cobra dos burocratas resultados que atendam às demandas básicas da população.
Na realidade, a necessidade de "mágicos" reflete a ausência de um projeto para o país. No debate público durante toda a campanha, não houve a apresentação de projetos e de propostas que definissem claramente o rumo a ser seguido no segundo mandato. Durante a campanha, Lula fez promessas que não cabem na conta do governo, que já vem espremendo os investimentos produtivos. Disse ainda que o corte de despesas correntes seria recessivo e só seria possível com o corte de gastos sociais. Portanto não recebeu das urnas mandato para tomar as medidas necessárias para retomar o crescimento.
Na questão fiscal, onde já existe consenso entre os economistas quanto à necessidade de um ajuste sério, Lula está enfrentando, no momento, as pressões, de um lado, daqueles que querem apropriar-se de recursos públicos e pregam que a expansão dos gastos do governo acelera o crescimento, vindas principalmente de seu próprio partido e de lideranças políticas aliadas, e dos governadores dos Estados, aproveitando o espaço aberto por Lula; de outro lado, vindas principalmente dos setores produtivos, indústria e agropecuária, de que sem um ajuste fiscal, sem a redução de juros e sem um alívio fiscal não haverá espaço para a verdadeira retomada do crescimento. Daí seu apelo aos "mágicos".
Os dados da semana passada mostram que vamos crescer menos de 3% neste ano, na lanterninha da maratona do crescimento, acompanhados somente pelo Haiti. Lula promete crescimento de 5% para 2007. Com os compromissos que está assumindo, só se ele encontrar "mágicos". De qualquer forma, se a meta não for alcançada, já sabemos a quem culpar.
YOSHIAKI NAKANO , 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).