Escolha de Joaquim Levy para
a Fazenda é sinal de que o estado
pode entrar nos eixos
Lucila Soares
Ana Nascimento/ABR |
Levy, executor do ajuste fiscal de Lula: do BID para o Rio |
Ao anunciar que o economista Joaquim Levy aceitara fazer parte de sua equipe, o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, recorreu ao bordão usado pelo Vaticano no anúncio da eleição do papa. "Habemus secretário de Fazenda!", comemorou. A fala pode ser entendida como mais que mera retórica. Em um país que está diante do desafio de voltar a crescer sem pôr a perder a estabilidade econômica, a figura do responsável pelas finanças tem atualmente, guardadas as proporções, o poder de influência de um papa. Mais ainda no estado do Rio, que vem sendo corroído desde a década de 70 pelo populismo que leva ao descontrole financeiro e é terreno fértil para a corrupção. Ali, tradicionalmente, a Secretaria de Fazenda foi um foco de problemas. Para enfrentá-los, o novo secretário terá mesmo de ser investido de autoridade quase papal. A escolha de Levy é um bom sinal. O economista, de 45 anos, foi secretário do Tesouro Nacional entre 2003 e março de 2006, quando deixou o cargo para ocupar a vice-presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington. Nesse período, executou com mão-de-ferro o ajuste fiscal que foi um dos grandes acertos da política econômica do primeiro mandato de Lula.
Roberto Jayme/AE |
Sérgio Cabral: entre a modernidade e o atraso, a opção é dele |
Sua escolha indica, portanto, a intenção do governador eleito de tirar o Rio de Janeiro da rota da irresponsabilidade fiscal. O que não é pouco. Mas não necessariamente será suficiente. Sérgio Cabral oscila entre dois pólos. De um lado, tem bons colaboradores de perfil técnico, como Sérgio Ruy Barbosa, no Planejamento, e José Mariano Beltrame, na Segurança, além do próprio Levy. Já deu mostras de que pretende modernizar a administração estadual, inspirando-se em experiências bem-sucedidas nos governos de Minas Gerais e Espírito Santo. E demonstra uma grande habilidade de articulação política tanto no âmbito municipal, onde fumou o cachimbo da paz com o prefeito Cesar Maia, quanto no federal. Tem ainda expressado saudável preocupação com a formulação de políticas regionais, o que o levou a buscar uma aproximação com o governador eleito de São Paulo, José Serra.
De outro lado, no entanto, Cabral ainda tem aliados problemáticos. O futuro líder de seu governo na Assembléia Legislativa, Paulo Melo, foi denunciado na semana passada por improbidade administrativa em Saquarema. Cinco integrantes de sua equipe enfrentam processos judiciais ou nos tribunais de contas. A ex-governadora Benedita da Silva, que ocupará a pasta de Ação Social e Direitos Humanos, enfrenta ação de improbidade movida pelo Ministério Público estadual. Julio Lopes, futuro secretário de Transportes, foi condenado a devolver dinheiro de investidores que compraram debêntures de uma empresa de sua propriedade. Alcebíades Sabino (Trabalho) e Henrique Ribeiro (DER) enfrentam ações no Tribunal Regional Eleitoral por irregularidades. E Júlio Bueno (Desenvolvimento Econômico), denunciado por superfaturamento no contrato de uma obra, está sendo investigado pelo Tribunal de Contas da União. Além disso, Sérgio Cabral manteve por longo tempo uma relação muito próxima com o casal Garotinho. Como presidente da Assembléia Legislativa na gestão do ex-governador, teve participação importante na aprovação de todos os projetos de interesse do Executivo estadual. Hoje, Garotinho está à beira do rompimento com Cabral – mais pelos méritos do governador eleito do que por seus defeitos.
Nelio Rodrigues/1º Plano/Local |
Aécio Neves: Minas inspira o Rio |
Para a historiadora Marly Motta, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sérgio Cabral já fez sua escolha. Está seguindo o modelo implantado por Aécio Neves (MG) e Paulo Hartung (ES), ou seja, escalar técnicos competentes para setores estratégicos do governo. "É um modelo que garantiu o sucesso eleitoral desses dois governadores e, agora, Sérgio Cabral vai tentar surfar nessa onda também", diz Marly. Octavio Amorim Neto, professor de ciência política da FGV, aposta na juventude de Cabral. "Ele é um homem da nova geração, que viveu toda essa decadência. Ele viu que ou ele muda os hábitos administrativos e políticos ou será mais um a entrar no cemitério político dos governadores do Rio", diz. Pesa a favor de Cabral o fato de ser um político jovem – 43 anos – e ambicioso. Ele sabe que tem muito a ganhar politicamente se tirar o estado do atoleiro. Ao aceitar o convite de Cabral, Levy deu a seguinte justificativa: "Há coisas acontecendo no Rio de Janeiro e eu quero participar delas". É uma aposta. Se for vencedora, quem tem a ganhar é o Rio.